A República Dominicana está no meio de campo dos direitos LGBT no Caribe e no mundo e isto faz espelho e reflexo com o Brasil na mesma questão. É um país que vive o paradoxo de reconhecer a existência de gays e, ao mesmo tempo, nega-lhes igualdade. Eles não punem a homossexualidade nem a população de transgêneros por serem o que são, como fazem seus vizinhos Jamaica e Barbados, por exemplo. Incentivam o chamado turismo LGBT em suas províncias, tem programas de ONGs voltadas para cuidar desta população em estado de vulnerabilidade e realizam uma famosa Parada do Orgulho Gay na capital, Santo Domingo. Entretanto, a ideia de matrimônio igualitário está longe de ser uma conquista e, agora, em janeiro deste ano, o governo disse que não reconheceria um casamento de pessoas do mesmo sexo, realizado na embaixada do Reino Unido. O país sofre pressões de grupos religiosos, como católicos e evangélicos, que impedem que conquistas dos homossexuais e trans avancem, além da histórica carga de machismo que permeia toda a América Latina.
Blogay esteve no país. conversou com militantes, visitou ONGs, projetos de incentivo ao turismo LGBT e conheceu um pouco como é ser LGBT na República Dominicana e, espante-se, não é muito diferente do Brasil: LGBT de todo o mundo (ou da América Latina), uni-vos!
Santo Domingo, a capital do país, é bafo. Além da carga histórica e dramática de ser a primeira cidade das Américas e terra de todo o clã Colombo que ali governou, ela é o epicentro da vida LGBT do país. Tem inúmeros bares, boates com shows de drags e transformistas, localizados, a maior parte deles na chamada Zona Colonial. É neste mesmo distrito que está um espaço de convivência público muito semelhante com o Largo do Arouche, na região central de São Paulo, chamado de Parque Duarte, onde nos fins de semana as monas põem a cara no sol mesmo.
“Aqui é um lugar de confraternização, encontro com meus amigos para depois irmos para algum bar ou ficarmos aqui mesmo , de papo, paquerando, é um lugar que podemos estar protegidos do preconceito”, diz Manuel Sánchez, 19, para a Folha, explicando, sem saber, o verdadeiro conceito da palavra gueto.
E é no “gueto” que se organiza, semanas antes da parada LGBT, festas com drags engraçadíssimas para arrecadar fundos para o evento. A 8ª Caravana do Orgulho Gay é uma espécie de carreata que aconteceu em Santo Domingo, no dia 5 de julho, com a presença de milhares de LGBT e simpatizantes nas ruas saudando os carros com a já tradicional bandeira do arco-íris.
Com uma cena tão diversa e ‘friendly”, um povo cheio de musicalidade e super hospitaleiro, além de belas praias e paisagens, a República Dominicana acaba por atrair um grande número de turistas LGBT. A percepção dessa demanda é sentida pela rede hoteleira. A rede Marriott, por exemplo, tem uma campanha mundial, mas também muito centrada no país , chamada #lovetravels. É quase um convite para casais homossexuais e trans (ou solteiros mesmos) se sentirem confortáveis nas instalações da rede hoteleira.
Tantos os hotéis Marriott como os Renaissance apoiam projetos como os da ONG Coin (Centro de Orientação e Investigação Integrada) e ProActividad para que seja implantado um turismo com tolerância pela diversidade.
Aliás, o Coin é uma interessante experiência, sua clínica fica localizada em um dos bairros mais pobres de Santo Domingo, Villas Agrícolas. Lá, eles cuidam de pessoas com HIV, agem contra o preconceitos aos LGBT, lutam pela despatologização da transexualidade, a questão das drogas, e muitas outras questões que envolvem os direitos humanos.
“A República Dominicana tem muitas violações dos direitos humanos. Temos situações como a prostituição que aqui é nebulosa, não é legal, nem ilegal, depende da polícia e se eles querem ou não reprimir. Temos muitos crimes de ódio contra transgêneros. Este é o grupo mais vulnerável. Entretanto, o nosso objetivo é ajudar que estes grupos vulneráveis possam se organizar e exigir seus direitos. Temos um trabalho de empoderamento para com eles”, declara para o blog o diretor do Coin Santo Rosario.
Empoderar para conseguir direitos parece ser A boa ideia para os LGBT tanto na República Dominicana como aqui.