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Gore Vidal, gay

Por Vitor Angelo

Os “Estados Unidos da Amnésia” como Gore Vidal chamava o seu país já o tinha esquecido há tempos. O escritor causou um canto do cisne como polemista que sempre o habitou quando culpou o governo Bush pelos atentados de 11 de setembro de 2001. Depois: silêncio, não dele, mas dos americanos em relação a ele. Nesta quarta-feira, 1º, os jornais dos Estados Unidos  irão ter que relembrar o grande escritor e o ser político atuante, pois terão que anunciar sua morte em notas. E nestes textos de hoje terão que rememorar o papel de Vidal para a vida política e cultural do país. Vai ser um raro momento que a amnésia não ocupará o lugar central de certas discussões americanas como Vidal tanto criticava.

Ele mesmo estava afastado da cena cultural e política fisicamente desde 2008 quando fraturou a coluna e começou a andar de cadeira de rodas. Todos sabem de sua ambição política – se candidatou duas vezes ao Congresso americano e não conseguiu vencer – mas isto não deixou de torna-lo por suas atitudes um ser político da mais alta importância, ainda mais para os direitos da minorias.

O significado de ser assumidamente gay antes da revolta de Stonewall em 1969, é algo que não conseguimos dimensionar, exatamente em uma época que a homossexualidade era ou crime ou doença. Gore Vidal rocks!

Um pouco antes da rebelião gay em Nova York, no ano de 1969, ele falou para a revista Esquire: “A homossexualidade é tão natural quanto a heterossexualidade. Repare que eu uso a palavra natural e não normal”.  E a definição de seu estilo literário bem pode servir para a sua sexualidade: “Saber quem você é, o que você quer dizer, e não dando a mínima”.

Foi seguindo seu próprio conselho que seu terceiro livro, “A Cidade e o Pilar” (1946), causou escândalo nos Estados Unidos e fez com que o jornal New York Times tivesse uma futura amnésia de seus seis próximos livros lançados depois desta afronta. Nenhuma linha foi escrita sobre a literatura de Vidal no prestigioso jornal por anos a fio por causa deste livro.

O pecado? Retratar dois jovens sem problemas psicológicos ou distúrbios vivendo um caso homossexual. Detalhe importantíssimo: eles também não acabam no final do livro punidos por isto. Apesar de ter sido publicado quase duas décadas depois de “O Poço da Solidão” (1928), de Radcliff Hall, que também causou escândalo, mas na Inglaterra, o livro não condena a homossexualidade como acontece no romance da inglesa, pois é para o narrador algo natural.

O livro de Vidal abriu corações e mentes e Alfred C. Kinsey, ao lançar “Comportamento Sexual no Macho Humano” (1948),  fez uma nota agradecendo o escritor “por seu trabalho de campo”.

No cinema, como roteirista de Ben-Hur (1959), dirigido por William Wyler, ele fez um subtexto gay sem que ninguém soubesse:  “Charlton Heston nunca soube disso, mas, para mim, Ben-Hur e Massala tiveram um romance na adolescência. Depois de muito tempo separados, Massala volta e quer reatar o romance. Diante da impossibilidade, se torna inimigo de Ben-Hur”.

Desde os anos 1950, tinha um caso com publicitário Howard Austen, que faleceu em 2003. Vidal deve ser enterrado, se seguirem seu desejo, ao lado dele. O resto é silêncio e nunca amnésia.

Gore Vidal (Divulgação)

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