Várias pessoas, vira e mexe, me fazem esta pergunta: “Gilberto Kassab é gay?”. Se Datafolha fosse, diria que o prefeito de São Paulo é o personagem sobre o qual os meus amigos mais têm curiosidade de saber a orientação sexual, tipo 69% a mais do que a de algum ator de novela ou de alguma estrela de Hollywood.
Explico: a pergunta não se trata porque acham que sou algum tipo de Mãe Dinah das orientações sexuais, mas é sabido que os homossexuais possuem algo conhecido como “gaydar”, uma espécie de radar que detecta se tal pessoa prefere pessoas do mesmo sexo ou não.
Assumo que o meu radar, eu o uso pouquíssimo. E em geral, quando me fazem esta pergunta, a resposta vem pronta: “Não sei, nem me interessa”. E ela, muito menos ríspida do que possa parecer, é uma sinalização para um desvio de assunto.
Interessa-me muito pouco a sexualidade dos outros, ela só desperta curiosidade quando estou também interessado sexualmente pela figura, senão, pouco me importa se é gay, hétero, bissexual. Prefiro saber se a pessoa é ética, tem bom humor, opiniões inteligentes.
Porém, entendo o interesse das pessoas pela sexualidade de Kassab. Um prefeito que proíbe artistas de rua, ovos com gema mole, gritos de feirantes anunciando seus produtos na feira ou o sopão para mendigos, deve ser alguém que é um prato cheio para os psicanalistas. Alguma coisa deve ter de errado, alguém que só sabe dizer não. “Pode ser um gay ultrareprimido”, devem pensar muitos que me perguntam sobre sua orientação sexual. Mas este não é o caso nem a explicação muito menos a desculpa, o que existe de verdade e fato é um governo municipal repressor.
Xico Sá listou quase todas as suas proibições. É transparente seu problema com os pobres desta cidade, principalmente os mendigos. Basta saber que ele tem uma polícia municipal que rouba e agride a população de rua para a gente perceber o tamanho do problema. Ao não gostar da cidade, ele denuncia que também não se gosta, pois mais do que a comandar, ele aqui vive.
É evidente que ele também não gosta dos que habitam São Paulo, até fechar shopping, a praia infeliz e medonha mas única do paulistano , ele está fazendo.
Sinceramente, eu não sei se ele é gay, ou um gay ultrareprimido, isto pra mim pouco importa. Mas sei que nunca na historia desta cidade, nem com Jânio Quadros, o não, o veto, a negativa prevaleceu sobre uma possibilidade de sim. Com certeza é o artigo melancólico de muita repressão, muito mais do prefeito do que da cidade.