Vadias de todo mundo, ou pelo menos do Brasil, uni-vos!
Neste sábado, 26, a Marcha das Vadias ganhou as ruas de 14 cidades brasileiras. Manifestação importada do Canadá como forma de protesto a um policial que mandou umas jovens se vestirem com mais pudor, ganhou colorido nacional e carnavalizou-se perante o machismo latino-americano, onde o brasileiro aparece com orgulho (só que ao contrário) nas primeiras colocações.
Lindas, pintadas, livres, o sexo feminino “foi vadiar”, como bem cantava e fazia Clementina de Jesus, quem sabe a vanguarda do movimento feito pra vadiar.
Olhando as belas de todas as idades se colocando contra o pior do sexismo, aquele que quer colocar limites e um lugar para mulher, é impossível não pensar que se tem uma luta que se assemelha ao dos homossexuais e transgêneros é a da mulher.
A condenação da promiscuidade dos gays se assemelha ao das mulheres e não ao dos homens héteros que “quanto mais rodados melhor”. A questão moral e asséptica em relação ao sexo é um fardo para a vida tanto das mulheres quanto dos gays que desejam ter liberdade, sexual inclusive.
Exatamente por isto é muito triste ver gays tentando defender a tal mentalidade que nos coloca como promíscuo – como se isto fosse algo errado, ruim, oras é apenas algo pessoal e independe de orientação sexual, isto é, se você é gay, hétero ou bi.
O escritor Ricardo Rocha Aguieiras escreveu um texto sobre um debate que aconteceu recentemente nas redes sociais sobre um remédio que pode evitar a Aids e que muitos militantes gays criticaram a sua divulgação pois poderia voltar com a promiscuidade.
“Muitos LGBT’s, militantes inclusive, defendem um comportamento ‘certinho’; ‘impecável’; ‘exemplar’ – teve até uma transexual defendendo a monogamia -, ‘bons costumes’, ‘fidelidade’; tudo muito lindo e limpinho, cartesiano, defendem o ‘correto’. Ok, nossa sociedade atual tornou-se extremamente conservadora e acabou repudiando importantes conquistas de liberdade, liberdade essa que tantos e tantas lutaram para conquistar no passado. Mas penso que LGBT’s não precisavam comprar esse conservadorismo de forma tão radical. E pergunto: Esse não é o mesmo discurso de todos os nossos opressores? A palavra ‘promiscuidade’ foi usada, desde sempre, para cercear a liberdade sexual. Sua, inclusive, não apenas a do próximo”, escreveu Aguieiras.
Este fato de internalizar o discurso do oponente ocorre com muita frequência com os gays como também entre as mulheres, principalmente com aquelas tristes mulheres que odeiam, não tem amizade e criticam as outras mulheres. As que não vadeiam.
Vendo as faixas da manifestação em São Paulo foi que vi como as mulheres e gays estavam na mesma esfera de opressão. Basta trocarem algumas palavras que o sentido é o mesmo. A única que não podemos trocar é que somos todas vadias, com muito orgulho.
PS1: Assim como as mulheres ainda passam apuros com certos tipos de roupa, os gays, principalmente os que se montam, sofrem também desta violência quando os senhores julgam que algo não está adequado seja na mulher, seja na bicha.
PS2: Ano que vem convido mais gays a entrarem na marcha. São nossas irmãs!
PS3: Não tem como não dar link para este texto de Xico Sá e as 10 vadias históricas do Brasil