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A homoafetividade dos heterossexuais

Por Vitor Angelo

Abraçar um amigo com carinho é sinal de – como se fiz popularmente – “viadagem”? Beijar um outro homem significa que existe algo de homossexual no ato? Sentir saudade de um colega do mesmo sexo é uma prova que sua conduta heterossexual está em xeque? O ator Alexandre Nero, que interpretou o homofóbico Baltazar na novela “Fina Estampa”, de Aguinaldo Silva, já tinha abordado este assunto em uma recente e excelente entrevista a Marília Gabriela. Para ele, heterossexual, do mesmo modo que as mulheres conquistaram alguns direitos e ainda estão lutando por outros, deixando o papel do machão meio sem sentido, seria também a vez dos homens conquistaram o direito à afetividade entre eles, independente de sua orientação sexual.

Se as mulheres se tratam com carinho e toque, porque os homens também não podem fazer o mesmo em um mundo que ruma cada vez – mesmo de forma lenta – para a igualdade e individualidade dos seres?  O interessante é que Nero não usa o termo anglicano “bromance” (a fusão de “romance” e “brothers” que significa irmãos, amigos muito próximos em inglês). Se o termo indica a forte amizade entre dois homens, ela ainda carrega uma pequena ironia que o termo homoafetividade, mais punk, não traz. E é este que o ator prefere usar ampliando seu significado e tirando apenas do contexto homossexual.

Nero reivindica a homoafetividade para os homens e para ele e diz ser um homoafetivo pois tem carinho pelos amigos, pelos homens que admira e não tem vergonha disso. De certa forma, esta atitude retira um certo caráter depreciativo que muitos héteros podem enxergar em parecer homossexual, o que é um avanço também contra uma parcela do senso comum que ainda vê imoralidade em um beijo gay.

Alexandre Nero volta a tocar nesse assunto no vídeo abaixo que fez para a campanha de apoio ao casamento civil igualitárido do deputado Jean Wyllys (PSOL) (assunto que este blog irá tratar mais à frente).

Em resumo: o carinho entre homens – que os homossexuais são muitas vezes os primeiros a estender este gesto – não tem relação nenhuma com a orientação sexual das pessoas e sim com e por um mundo mais fraterno.

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