
Existe duas perspectivas do que é ser (ter uma vivência) gay que muitas vezes se confundem, se opõem e dialogam. Uma é de rebeldia contra o sistema binário masculino-feminino, contra a ideia de monogamia, o casamento e o modo de vida normativo. A outra é de inserção, a favor da extensão dos direitos civis aos homossexuais, de uma reafirmação do sistema binário masculino-feminino em uma chave mais liberal e uma aproximação ao modo de vida heterossexual.
Neste sentido, o filme “Verão em L.A.” (“August”), do diretor israelense Eldar Rapaport, encaixa-se mais no segundo caso e traz, principalmente para uma plateia heterossexual, a ideia que as diferenças entre o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo podem não ser muito diferentes das relações entre homem e mulher.
A começar pela ideia de triângulo amoroso, uma estratégia clássica da literatura romântica, transposta para o personagen Troy (Murray Bartlett), que volta para Los Angeles e reencontra com seu antigo namorado Jonathan (Daniel Dugan), agora se relacionando com Raul (Adrian Gonzalez). Neste sentido, coloca-se uma espécie de universalização dos relacionamentos, tanto homos como héteros podem cair nestas “armadilhas de Vênus”. Assim como a crise de Troy é muito conhecida de todos – tanto héteros como homos – que ao sentir que a vida amorosa parece sem muito sentido, volta-se às lembranças da última e mais forte paixão.
Dentro do contexto de aparar as diferenças entre as relações héteros e gays, o filme é muito eficaz e até didático. Ao mostrar em uma cena – aliás a única que explicita os papeis sexuais na cama dos personagens – Jonathan transando como passivo, podemos enxergar aí também a reafirmação do sistema binário masculino-feminino. Ele é o apaixonado, o frágil, o confuso, enfim, no esquemático sistema binário, ele seria a mulher, enquanto Troy é o masculino que mesmo confuso é quem conduz a história. Mas como disse, é um sistema binário mais liberal e essa função cabe ao personagem Raul, que cumpre um importante papel para o desenlace do triângulo.
Ao mostrar que os relacionamentos homossexuais podem ser muito parecidos com os heterossexuais, “Verão em L.A.” ajuda a desmontar um pouco o medo de audiências mais conservadoras em relação ao amor gay e isto é um grande mérito.
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