No final de fevereiro, a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) soltou nota por e-mail elogiando o petista José Dirceu.
“Como profissional de direito, articulista e político, você foi muito feliz ao defender a laicidade do Estado e o direito das pessoas à individualidade, à autonomia, à dignidade, à igualdade. Estamos perplexos com certos posicionamentos do governo federal que não estão de acordo com as bandeiras históricas do PT – que tem uma trajetória de compromisso com os direitos humanos e com o combate à homofobia”, diz uma parte da nota.
A referência é pelo texto no blog de Zé Dirceu do dia 16 de fevereiro: “O PT e não o governo precisa assumir disputa política contra a direita”. Diz um trecho: “O governo não precisava entrar nessa disputa. Estes temas – aborto, questões ideológica, homossexualidade – ainda que dividam inclusive a nossa bancada, precisam ser enfrentados não pelo governo, mas pelo PT, por suas bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, nas assembleias legislativas e nas câmaras municipais”.
E continua: “Debater sem patrulhamento e com respeito ao caráter laico do Estado.[…] Vamos ao combate e ao debate, então – o partido, não o governo. Cabe aos que no PT, no Parlamento e na sociedade defendem o fim do preconceito e da violência contra os homossexuais, o direito da mulher decidir sobre seu corpo, e que o aborto tem que ter um tratamento como questão de saúde pública, travar essa batalha”.
O elogio da associação não caiu bem entre alguns militantes. O Diversidade Tucana, ligado ao PSDB, logo soltou nota dizendo que: “se em seu proselitismo político, o deputado cassado José Dirceu deu declarações consideradas pela ABGLT e Toni Reis merecedoras de reconhecimento, não nos oporemos. Mas fazer um documento que chama o corrupto de ‘companheiro de tantas lutas’ e rasga menções elogiosas a seu partido, dizendo que o PT é ‘depositário das esperanças dos movimentos sociais’ é um escandaloso desrespeito à pluralidade ideológica e partidária do Movimento LGBT”.
Mesmo tendo o teor de briga partidária, o escritor Ricardo Rocha Aguieiras lamenta a menção da entidade a José Dirceu em entrevista ao Blogay: “Penso que nem toda visibilidade ou apoio é bom para a causa, alguns podem ser muito nocivos, inclusive. Penso que há um monte de gente que nunca foi devidamente reconhecida em sua luta e que mereceriam serem parabenizadas, como o João Silvério Trevisan ou a Miriam Martinho”.
Já Luís Arruda do grupo Ato Anti-homofobia pontua: “Fiquei feliz por uma pessoa importante dentro do PT aparecer defendendo a laicidade do Estado. Quanto à nota em si, acho que pelo Zé Dirceu ser uma figura de grande antipatia atualmente, com sérias acusações de corrupção e até de coisas piores, atrelar a imagem das LGBTs a ele talvez não seja a melhor estratégia…”
“Dirceu não tem histórico de apoio à causa LGBT. É uma forma sutil da entidade se posicionar de forma critica ao governo e ainda se mostrar aliada do petismo/lulismo”, analisa Marcelo Gerald do site Eleições Hoje.
Gerald nos dá uma pista para o realmente está acontecendo com os movimentos sociais. Muitos deles, de base petista, começaram a apontar, nos últimos meses, uma certa indignação com o governo Dilma Rousseff. Mas como criticar um governo que o PT está à frente?
A solução para alguns petistas é desmembrar a imagem de Lula (José Dirceu estaria ligado a essa nova imagem do lulismo e do PT) com a de Dilma (governo). Seria uma forma (mesmo que esquizofrênica) de continuar ligado ao PT mas fazendo críticas duras ao governo federal.
É assim que muitas entidades petistas ligadas aos movimentos sociais prometem sair às ruas em abril e maio. Na 3.ª Marcha Nacional Contra a Homofobia que acontecerá no dia 17 de maio, em Brasília, o governo Dilma Rousseff será alvo de “repúdio à homofobia institucional que vem dominando o governo federal”, como anuncia as convocatórias para a passeata.
Mas até quando essa estratégia funcionará para ainda ligar o PT aos movimentos sociais que criticam veemente o governo (petista)?