Blogayminorias – Blogay http://blogay.blogfolha.uol.com.br A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo Wed, 18 Nov 2015 02:07:18 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A Parada Gay de São Paulo é negra e pobre http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/05/a-parada-gay-de-sao-paulo-e-negra-e-pobre/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2014/05/05/a-parada-gay-de-sao-paulo-e-negra-e-pobre/#comments Mon, 05 May 2014 23:00:02 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1688 No domingo, 4, o centro de São Paulo parou para ver a Parada LGBT passar. Durante as seis horas que permaneci no evento, uma constatação que já tinha feito em outros anos se impôs:  o evento gay é feito principalmente por negros e pobres.

“Jardim Ângela”, “Itaquaquecetuba”, “Pirituba” foram algumas das inúmeras respostas à pergunta que fazia aos participantes pra saber de onde é que eles tinham vindo para o evento. Muitos com cabelos com luzes, outros com um corte que lembrava o do sertanejo Gusttavo Lima, muitos com camisetas de marca e algumas tatuagens tribais que os desenhos muito lembravam uma espinheira, sem falar do boné. Estava de frente com uma classe social que conhecia das fotos dos jornais, dos chamados rolezinhos. As classes C e D ocupam novos lugares em um misto de enxergar a Parada como diversão enquanto consumo e também como um ato de cidadania (seja consciente ou não).

A Parada também lembrou muito os entrudos populares, os carnavais de rua do Brasil Colonial e monarquista que os escravos eram os protagonistas e os brancos assistiam à festa de suas janelas. E não precisava de nenhum instituto de pesquisa para constatar o óbvio, a presença de uma imensa maioria de pessoas negras.

Esta presença de negros e pobres no evento o faz ter muito mais significados e levanta complexidades mais ricas sobre as minorias no país. Já escrevi aqui que a luta de uma minoria é a luta de todas as minorias, e a presença delas em uma parada gay, mesmo que de forma desarticulada só comprova a tese acima. Estão todos na mesma marcha querendo direitos e respeito.

A parada paulistana surgiu branca e hype, era chique ir defender os gays, mesmo você sendo apenas um simpatizante, termo usado na época. Com os anos, um evento de graça, em uma cidade que o dinheiro rege o seu poder de ter lazer, fez com que negros e pobres também quisessem este ato de cidadania (a diversão de graça mais do que a própria parada). Entretanto, a presença, nos primeiros anos até violenta e mal educada destes novos convidados, afugentou.

Surgiram muitas desculpas, então, como as que parada virou uma micareta, um Carnaval fora de época (sempre foi e isto faz parte de nossa cultura), agora só tem putaria (sempre teve e não devemos olhar com moralismo, o mesmo moralismo que, de fundo, condena a existência de homossexuais), não era politizada (nunca foi em um sentido muito dogmático e restrito do termo). Desculpas para, talvez, esconder a verdadeira razão, a questão classista disfarçada na expressão “agora só tem gente feia”.

Talvez as únicas desculpas aceitáveis eram as das mulheres que ficaram assustadas com o assédio de um grande número de homens héteros que iam fazer pegação na Parada. Mas este ano, vi muitas lésbicas bem à vontade sem serem repreendidas por nenhum marmanjo. Não vi abordagens ostensivas que já cansei de presenciar nas edições passadas, nem vi tanto lixo no chão, nem pessoas muito bêbadas caídas, nem um clima de possível violência. Vi um ato civilizatório entre gays e negros e pobres e a própria Parada, porque, mesmo que inconscientemente, estavam todos lá por direitos, nem que fosse pelo direito de se divertir.

18ª edição da Parada Gay em São Paulo (Danilo Verpa/Folhapress)
18ª edição da Parada Gay em São Paulo (Danilo Verpa/Folhapress)
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Vadias de todo o mundo, uni-vos http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/05/25/vadias-de-todo-o-mundo-uni-vos/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/05/25/vadias-de-todo-o-mundo-uni-vos/#comments Sat, 25 May 2013 21:00:27 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1284 Neste sábado, 25, diversas cidades no mundo fizeram a chamada Marcha das Vadias.  A passeata surgiu quando um policial em uma palestra sugeriu que as mulheres não deveriam se vestir como vadias se não quisessem ser estupradas. Estava flagrado a vigilância pesada que elas, e por extensão as minorias, ainda sofrem. O medo de expressar afetividade (com direito a beijo na boca) entre pessoas do mesmo sexo em lugares públicos é da mesma ordem da que vigia as roupas que as mulheres devem vestir para estarem “adequadas”.

Marcha das Vadias, em São Paulo (Facebook/Clara Averbuck)

O machismo mata mulheres e LGBTs e já escrevi aqui que a luta contra a cultura machista é tanto das mulheres quanto dos gays. A cultura que crê na superioridade do homem é uma cultura que despreza a igualdade.

Não por acaso tinha muitos homossexuais na marcha e muito héteros que gostariam de se ver livre do machismo, pois ele é também opressor para muitos deles. Nem todos querem ter comportamentos escrotos para ganharem o selo de qualidade do “macho man”. E estavam todos usando saias, maquiados, abraçando suas namoradas, mostrando que é possível ser homem sem ser machista.

Esta dimensão de ter tanto homens héteros como gays em uma marcha feminista mostra esta nova fase que a luta pelos direitos humanos ganha no país. Graças a todo o movimento contra o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) acusado de racista e homofóbico, ficou evidente que a luta contra o racismo é a mesma que a contra homofobia e a que quer ver o machismo sepultado. Começamos olhar para cadeirantes e pessoas especiais sem termos mais distanciamento, afinal percebemos que para quem está no poder, as minorias são todas vadias. E nós gritamos na rua que sim, com muito orgulho.

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Existe ou não existe amor em SP? http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/01/25/existe-ou-nao-existe-amor-em-sp/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/01/25/existe-ou-nao-existe-amor-em-sp/#comments Fri, 25 Jan 2013 16:00:35 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1048 São Paulo, que completa 459 anos nesta sexta-feira,25, tem maltratado muito seus moradores. Uma cidade com uma polícia agressiva, toques de recolher,  chacinas nunca explicadas, falta de espaços públicos (a morosidade em nome da especulação imobiliária para que uma área na rua Augusta com a Caio Prado vire um parque para toda a população da região central da cidade é um exemplo), episódios quase que diários de homofobia, uma arquitetura contemporânea pavorosa, uma elite mesquinha e uma classe pobre e média conservadora, faz com que se endosse tanto descaso pela vida humana na maior cidade do país.  Quando o rapper Criolo exclama “não existe amor em SP” parece que o músico nos joga na cara o óbvio, o que está evidente e só faltava ser falado (ou cantado).

Durante décadas São Paulo foi odiada pelo resto do país. Frases como a de Vinicius de Moraes que “São Paulo é o túmulo do samba” ou a clássica de Nelson Rodrigues, “A pior solidão é a companhia de um paulista”, não surgem em vão. Existia uma recusa e uma incompreensão com aquilo que destoava da tal “brasilidade”.  A cidade não se encaixava no ideal tropical que é tão evidente, por exemplo, no Rio de Janeiro e em Salvador, que por muito tempo foram a síntese e a ideia de Brasil.

Mas o que era diferente, o estranho,  o fora do lugar (numa metáfora às minorias e aos gays) , começou desde os anos 1980 a ditar comportamentos para o Brasil.  E este ódio pela cidade foi diminuindo um pouco pelos brasileiros que não moram na capital paulista. Mas se existe alguém que critica com veemência, esculhamba e bufa contra São Paulo são os próprios paulistanos e os moradores que aqui vivem (que são considerados também paulistanos) – esta simbiose não existe em nenhuma outra cidade do país como também esta baixíssima autoestima pela cidade por parte paulistanos (isto é, todos que vivem em SP). Como já escrevi uma vez: “São Paulo, te amo odiar, te odeio amar”.

A relação de amor e desamor com São Paulo e da cidade com seus habitantes é um traço vital, é seu yin e yang.  Assim se opera a relação de seus moradores com esta metrópole. Outros habitantes de outras capitais poderiam dizer que também têm este “approach” com suas cidades, mas nunca será algo primordial e intenso como é para quem vive em SP.

Colocadas estas observações, volto ao primeiro parágrafo que diz que a cidade está nos maltratando.  O equilíbrio entre amor e desamor que existe em São Paulo e nela com seus habitantes está em desequilíbrio. Não é à toa que cartazes pela cidade pedem “mais amor por favor” e muitas pessoas rebatem Criolo e a todo momento dizem: “Existe amor em SP”.

O amor é um assunto central na cidade hoje – o atual prefeito Fernando Haddad  (PT) explicitou em seu discurso de posse no começo deste ano esta vontade de amor no debate sobre a cidade, (clique aqui nos 4:00) –  e nos orgulhemos, é um luxo que  um sentimento individual, próprio da individualidade seja tratado de forma coletiva sem autoritarismo e muita poesia. Precisamos reajustar esta balança, mas o sentimento de querermos mais amor já diz muito que este reajuste em breve acontecerá.

Sem pânico em SP, parabéns São Paulo!

Cena de “Cidade Oculta” (1986), de Chico Botelho (Reprodução/Vídeo)
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Obama reafirma a questão gay como uma das centrais no mundo de hoje http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/01/22/obama-reafirma-a-questao-gay-como-uma-das-centrais-no-mundo-de-hoje/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/01/22/obama-reafirma-a-questao-gay-como-uma-das-centrais-no-mundo-de-hoje/#comments Tue, 22 Jan 2013 04:00:47 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=1035 Os gays (e quando digo gays considere a forma de chamar os LGBTs como um todo) realmente estão no centro das questões políticas mundiais. O exemplo mais recente foi o discurso de posse do presidente reeleito dos Estados Unidos, Barack Obama, nesta segunda-feira, 21, em Washington.

Ele, que é apontado como o homem mais poderoso do mundo, citou a revolta de Stonewall (que aconteceu em 1969 quando gays, travestis e lésbicas se rebelaram contra a polícia de Nova York pelas constantes humilhações e estelionatos sofridos) e a equipara a movimentos importantes para os direitos civis das mulheres e negros.

“Nós, o povo, declaramos hoje que a mais evidente verdade, a de que todos nós somos iguais, é a estrela que ainda nos guia, assim como guiou nossos antepassados através de Seneca Falls e Selma e Stonewall; assim como guiou todos os homens e mulheres, celebrados e não celebrados, que deixaram pegadas por esse longo caminho para ouvir um pregador dizer que não podemos andar sozinhos, para ouvir um rei proclamar que a nossa liberdade individual está intrinsecamente ligada à liberdade de cada alma da Terra”, disse o presidente.

E foi enfático: “Nossa jornada não estará completa até que os nossos irmãos e irmãs gays forem tratados como qualquer outra pessoa perante a lei, pois se realmente fomos criados como iguais, certamente o amor que atribuímos uns aos outros deve ser igual também”.

Ao colocar os direitos humanos no centro de seu discurso assim como a da igualdade de direitos à população LGBT, Obama endossa o papel que esta questão tem guiado discursos e ações políticas no mundo.

Neste exato momento, os gays estão também no centro do debate político na França através da lei que propõem o casamento homossexual. Do outro lado do mundo, o Vietnã estuda legalizar a união homossexual e é algo muito debatido na imprensa vietnamita.  Os homossexuais foram também peça importante na recente disputa pela prefeitura de São Paulo, no segundo turno gastou-se um bom tempo discutindo também os direitos dos gays, o que parecia algo um pouco deslocado (para os menos avisados) já que estávamos no terreno da municipalidade.

Se temos estes exemplos positivos acima, os gays também estão no debate de países africanos que ainda consideram a homossexualidade crime e em alguns casos querem aprovar uma pena de morte para aqueles que amam pessoas do mesmo sexo. No Brasil, um dos candidatos para vaga à presidência da Câmara dos Deputados, Ronaldo Fonseca (PR-DF), está vinculando sua candidatura com a ideia de levar à votação e derrotar propostas de direitos iguais aos homossexuais.

Obama então só reafirma que as questões dos direitos LGBTs estão mesmo no centro do debate político no mundo hoje. E por quê? Com uma crise econômica afetando o mundo, este seria uma pauta pertinente?

Com certeza diferente de todas as outras minorias que é muito explícito a questão do grupo (é clara e visível a identificação do negro, da mulher ou do cadeirante como grupo), os LGBTs trazem dentro de sua essência a questão da sexualidade e do sexo que é talvez um dos componentes que mais identifica a individualidade ou a liberdade do indivíduo. No sexo e no desejo sexual percebemos que algo pertence só a nós e que só a nós nos interessa para exercê-lo, isto é, trabalha-se no terreno dos indivíduos.

O que vale apontar é que atrás (ui) da questão gay está a questão das liberdades individuais, e é contra esta liberdade que o autoritarismo e o totalitarismo (que costuma surgir em tempos de crise econômica como a que vivemos hoje) sempre irá tentar se opor e destruí-la. Não estamos no centro do debate em vão.

Barack Obama na cerimônia de posse em Washington (Justin Sullivan/AFP)
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10 argumentos que gostaríamos que os cristãos entendessem sobre a homossexualidade http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/02/10-argumentos-que-gostariamos-que-os-cristaos-entendessem-sobre-a-homossexualidade/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/09/02/10-argumentos-que-gostariamos-que-os-cristaos-entendessem-sobre-a-homossexualidade/#comments Mon, 03 Sep 2012 01:00:11 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=786 Volta e meia, usam o nome de Jesus e a Bíblia aqui nos comentários do blog para mostrar o lado mais negro, perverso e intolerante da humanidade. Pessoas que falam em nome de Deus  (tamanha prepotência) para justificar atitudes e mentalidades satânicas. O discurso deles é uma repetição do que escutam nos cultos e missas de seus superiores. É uma espiritualidade triste que está muito longe das lições de amor do cristianismo, a crença que julgam seguir.

Talvez uma atitude para combater as sandices pregadas e destiladas aqui e em diversos lugares só um outro discurso religioso. O reverendo Jim Rigby é pastor da Igreja Presbiteriana de Santo André em Austin, Texas, e um ativista de longa data dos movimentos sociais e de uma maior justiça econômica. Ele defende os direitos dos negros, gays e de diversas minorias.

Abaixo ele escreveu dez argumentos que gostaria que os cristãos entendessem sobre a homossexualidade:

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Meninos, eu vi: A morte de Lady Di http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/31/meninos-eu-vi-a-morte-de-lady-di/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/08/31/meninos-eu-vi-a-morte-de-lady-di/#comments Sat, 01 Sep 2012 01:00:45 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=768 Prólogo:

Era um verão tipicamente brasileiro em Londres. Algo atípico aquele sol todo. Um agosto destes que faz você estranhar que a Inglaterra tem fama de chuvosa. Estava na cidade para uma temporada de dois meses. Costumava me reunir com amigos no Soho Square para o piquenique do almoço que sempre se estendia –  para os que não estavam trabalhando como eu – até o “happy hour”. Por incrível que pareça, meus amigos ingleses (sim, existem ingleses em Londres) eram todos republicanos, antimonarquistas e odiavam a princesa Diana. “Ela tem um senso de moda detestável”, dizia uma amiga muito elegante. “Cada um tem a novela que merece, nós ingleses temos a família real com a Lady Di”, disse outro entre uma cerveja e outra sob sol do meio-dia.

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Remoção dos destroços do carro em que estava Diana, em Paris (Pierre Boussel – 31.ago.97/France Presse)

Era um verão muito quente e as pessoas estavam animadas, até abrir as casas para dar festas, elas estavam fazendo. Era um ambiente de exceção para quem conhece os londrinos. E em um “saturday night fever” destes que pede alegria, fui a uma dessas festas, na casa de uma pessoa que eu mal conhecia – algo bem exceção – e, de repente, percebi que todos sumiram da sala, a pista de dança improvisada. Reencontrei a festa em silêncio em um quarto, todos meio chocados – sem falar nem “oh, my God” nem nada – viam as imagens anunciando a morte de Lady Di em um túnel de Paris.

Nunca me esqueço que as primeiras imagens na televisão mostravam os clubbers com seus cabelos laranjas e azuis saindo das boates e os negros indo levar flores para a ex-princesa Diana, na porta dos palácios de  Kensington e Buckingham. Foram as primeiras de milhares.

Acabou a festa, acabou o verão, o tempo fechou em um clima de tristeza mórbida e quieta – muito diferente do melodrama quase histérico dos brasileiros ao presenciarem mortes históricas. Mesmo aqueles meus amigos que escorraçavam a família real e Lady Di estavam quietos, não se ouviu uma piada sobre a morte, nenhum comentário malicioso. A turbulenta Londres era só silêncio muito antes das 23h, quando costumavam fechar os pubs.

Os indianos colocaram, em cada deli, um cartaz na porta de entrada escrito: “Diana, Princess of Ours Hearts” (“Diana, Princesa de Nossos Corações”). A vida gay sempre tão agitada teve uma semana desanimada. A ressaca de um verão maravilhoso bateu antes do previsto. O luto de uma semana foi sentido por todos, os que gostavam ou não da mãe de William e Harry.

Era realmente a princesa do povo, sem demagogias. E isto ficou claro quando as minorias – negros, indianos, gays, clubbers – choravam, emudeciam-se, levavam flores nas portas dos palácios reais e se indignavam com a frieza da rainha Elizabeth. De certa forma, ela representava o retrato daquela minoria perante a aristocracia. Diana estava à margem mas, mesmo assim, era odiada por estes mesmos aristocratas, pois ela era o centro de todas as atenções. Como as minorias o são quando lutam pelos seus direitos e dignidade e irritam uma certa “maioria” que tem todos os direitos e não quer que outros os tenham.

Há 15 anos, o verão mas atípico da capital inglesa terminou de uma forma mais triste que o habitual.

Turistas prestam homenagens à Diana em frente ao monumento Chama da Liberdade com flores, fotos e cartazes, em Paris (Jacques Brinon – 31.ago.12/Associated Press)
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Criminalizar a homofobia não é um ato decorativo http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/06/09/criminalizar-a-homofobia-nao-e-um-ato-decorativo/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/06/09/criminalizar-a-homofobia-nao-e-um-ato-decorativo/#comments Sat, 09 Jun 2012 18:00:44 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=449 A homofobia vem de berço, infelizmente. Somos todos contaminados um pouco mais ou um pouco menos por esta ação secular e cultural. “Homem não chora”, “homem não veste rosa” ou “homem não brinca de boneca” são informações impregnadas de homofobia que adquirimos e passamos adiante sem saber, nem questionar o seu valor autoritário [depois tem fundamentalista que vem chamar a PLC122 que criminaliza a homofobia de “lei da mordaça”].

Entretanto, a luta contra a homofobia que tem, no seu papel cívil, a importância de criminaliza-la – pois em sua radicalidade leva a atos extremos de violência e morte -, parece ser algo decorativo dos partidos políticos e dos  senhores sentados em cadeiras do Legislativo e Executivo.

Neste sábado, 9, o Uol publicou uma notícia que a gestão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, não aplicou metade do orçamento de combate à homofobia.  Este é um exemplo entre inúmeros de como a luta contra a homofobia serve muito bem para o discurso e pouco na prática.

Nesta época de eleições, não temos um partido político, seja de direita ou de esquerda, que toque na questão da criminalização da homofobia ou no esclarecimento da PLC122. Assim como aconteceu com o Escola Sem Homofobia, o projeto de lei que irá de encontro ao alto índice de assassinatos de LGBTs no Brasil não recebe de nenhum partido político ou mesmo políticos, ou até movimentos LGBTs ligados aos partidos políticos, um discurso e práxis sistemáticas que  tentem desmontar a ideia de “lei da mordaça”, apregoada aos quatro ventos pelos conservadores. Repito: sistemático (não apenas um manifesto ali, depois de um tempo acolá), da mesma forma que os fundamentalistas injetaram na sociedade a ideia equivocada de “kit gay” ou “lei da mordaça”.

Falta coragem de lidar com a verdade? A PLC122 defende idosos , deficientes físicos também, porque isto nunca é (novamente) sistematicamente colocado nos discursos de resposta aos ataques que seria o projeto uma lei totalitária? A PLC122  sim é uma lei que protege os gays (no sentido genérico da palavra) e não podemos esconder isto, temos que nos orgulhar por esta luta. Mas protege também heterossexuais que não compactuam com certos modelos, estes sim, autoritários, que fazem com que um pai tenha sua orelha arrancada porque abraçou seu filho e foi confundido com casal de namorados, no interior de São Paulo, ou a aeromoça que, confundida com travesti, apanhou de um bando de pitboys, em Alagoas.

Dito isto, questões como o boicote à marca Avon por patrocinar um pastor homofóbico ou a luta pelo casamento igualitário não são de forma alguma  algo menor e nem devem ser desprezados. Sim, eles devem existir com toda a sua importância ao lado do combate da criminalização da homofobia. Mas o que se percebe, a impressão que se tem, é que a criminalização da homofobia virou algo menor que estas questões.

Toda a luta dos movimentos gays está sobre o guarda-chuva da homofobia. Criminalizá-la é resolver mais da metade delas e abrir brechas legais em outras como possíveis condenações a juízes que se negam a registrar o casamento de casais do mesmo sexo.  Então porque este medo, porque deixar esta bandeira que é primordial em segundo plano? Vamos sair do armário e tirar do armário a luta pela criminalização da homofobia, não como discurso, mas como atitude e ação primeira seja nos partidos políticos, nos movimentos LGBTs e em nós mesmos.

Preta Gil se manifestou pró PLC122 e você? (Reprodução/Twitter)
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“Ter preconceito contra homossexuais não é diferente de discriminar os negros”, diz o rapper Jay-Z http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/15/ter-preconceito-contra-homossexuais-nao-e-diferente-de-discriminar-os-negros-diz-o-rapper-jay-z/ http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2012/05/15/ter-preconceito-contra-homossexuais-nao-e-diferente-de-discriminar-os-negros-diz-o-rapper-jay-z/#comments Wed, 16 May 2012 02:30:04 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/11328453.jpeg http://blogay.blogfolha.uol.com.br/?p=340 Depois de Barack Obama declarar ser a favor do casamento gay, um medalhão (bling bling) do rap deu entrevista, nesta terça-feira, 15, para a CNN e colocou sua posição sobre a união de pessoas sobre o mesmo sexo em outra perspectiva.

A pessoa mais poderosa do hip hop diz que Obama “does the right thing”, mesmo que isto signifique perder eleitores. “É a coisa certa a se fazer, então se isso custar votos a ele… Não é pelos votos, é pelas pessoas. É a coisa certa a se fazer como ser humano”.

[youtube xZsItunLZDU nolink]

Mas o principal de sua declaração é “o que as pessoas fazem em suas próprias casas é negócio delas e você pode escolher amar quem você quer amar. “[Ter preconceito contra homossexuais] não é diferente de discriminar os negros. É discriminação pura e simples.”

Este é o ponto, o marido de Beyoncé tem compreensão da totalidade e da amplidão da luta homossexual que é mais do que a luta pelos direitos civis de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros. Esta luta também traz em seu bojo a questão das  mulheres, dos negros e das minorias, pois de fundo é uma luta por respeito contra a opressão.

O advogado Paulo Tavares Mariante, escreveu em seu texto “Igualdade de Direitos: 3ª Marcha Nacional contra a Homofobia”: “A construção de uma frente nacional pela igualdade de direitos, que aglutine militantes dos movimentos negros, feministas, LGBT e da diversidade sexual, da juventude, das pessoas com deficiência, idosos, trabalhadoras e trabalhadores, bem como sem terra, sem teto, e pela efetividade dos direitos sociais, para nós é tarefa essencial a ser desenvolvida e embora não seja simples ou fácil exige um esforço de unidade e de priorização”.

Talvez agora alguns leitores entendam porque muitas vezes as mulheres, os negros e outras minorias também são tema deste blog.

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