Junto com o Mix Brasil, uma série de palestras e conferências, workshops e intervenções artísticas serão feitos pelo coletivo [SSEX BBOX]. Através do debate de ideias e da produção artística, eles pretendem questionar a heteronormatividade e os corpos em opressão, identificados com as minorias sexuais, sociais, étnicas. Priscilla Bertucci, 37, é CEO do grupo, e se coloca como “artista social brasileirx que se identifica como ‘gender queer’”. Ela explica melhor o projeto em entrevista por e-mail para o Folha e avisa que ainda há vagas em algumas as atividades, todas grátis, (veja a programação clicando aqui) que acontecem a partir desta terça-feira, 17, e termina no dia 22 de novembro, no Centro Cultural de São Paulo, em São Paulo.
Blogay – O que é a [SSEX BBBOX], como surgiu e qual a área de atuação do [SSEX BBBOX]?
Priscilla Bertucci – Nosso projeto surgiu como uma web série, com o objetivo de trazer informações para essa comunidade sexodiversa, no entanto, percebemos que ainda não era o suficiente, foi quando começamos a promover mesas de debate sobre o conteúdo do episódios em San Francisco, nos Estados Unidos, em 2011. Isso depois se estendeu para as outras cidades, evidente que pelo histórico de violência contra as minorias no Brasil, principalmente sobre as pessoas transgênero, São Paulo acabou tornando-se um foco para esse debate, já faz cinco anos que fazemos esse trabalho. Nossos objetivo principal é o questionamento continuado dos privilégios, de classe, gênero, étnicos e promover a inclusão radical tanto na sociedade, como nas empresas.
Como e por que resolveram montar a 1ª Conferência Internacional?
A 1ª Conferência Internacional [SSEX BBOX] & Mix Brasil acontecerá em parceria com o Festival Mix Brasil da Diversidade de São Paulo (17 a 22 de novembro de 2015) dentro da programação do 23º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade. A Conferência será composta por palestras e mesas de debates, workshops, exibição de filmes e performances artísticas, no Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso, São Paulo), e tem como objetivo, discutir questões de gênero, cultura queer, homofobia, transfobia, feminicídio, políticas públicas, entre muitos outros temas. Tudo isso de forma democrática, totalmente grátis para o público em geral. Entre os convidados estão Buck Angel, Carol Queen, Laerte Coutinho [cartunista da Folha], Jean Wyllys, Daniela Sea, Renata Peron, Symmy Larrat, Tatiana Lionço, João W. Nery , João Silvério Trevisan e muito mais.
Lançamos uma campanha de crowdfunding, e gostaríamos da SUA AJUDA para divulgar o evento e a campanha que vai continuar até depois do evento pois não conseguimos arrecadar a quantia desejada ainda. (clique aqui para conhecer o coletivo e doar )
Nossa luta tem sido democratizar o investimento e o empoderamento dos corpos Kuir/queer! De empoderar os corpos colonizados e maltradados por gerações e gerações por serem “diferentes” da norma. O empoderamento dos grupos oprimidos é primordial, mas só é possível com uma política que os torne protagonistas de sua própria história.
O que a conferência tentará debater e trazer à luz nestes tempos conservadores no Brasil?
Estamos num momento de mudança de paradigmas e seria lindo ver esse novo paradigma ser liderado por pessoas que vivenciaram opressões, como queer, trans, indígenas, mulheres e negros, e que conseguem questionar o que está imposto pela sociedade embasada no sexismo e no patriarcado. Não é possível falar sobre sexualidades e identidades sem estabelecer interseccionalidades nas opressões.
Os exemplos que me motivam na comunicação não violenta são Gandhi e Martin Luther King Jr., pois eles conseguiram com a não violência, um aprendizado contínuo e a confiança compartilhada fazer uma guerra sem luta e vencê-la para a posteridade.
A organização da comunidade LGBTQIA no Brasil ainda é frágil por conta das especificidades e diferentes necessidades de cada uma das orientações e identidades existentes na sigla LGBTQIA, que dificultam uma efetiva união de forças.
Acredito que outro desafio é trazer para a sociedade civil a conversação sobre representatividade política e a eleição de pessoas preocupadas em garantir condições de direto pleno e respeito para todos.
É preciso perceber que os fundamentalistas estão organizados (veja o caso dos Gladiadores do Altar que é uma milícia, que ainda não dimensionamos seu real alcance), enquanto os laços da comunidade LGBTQIA de irmandade ainda são frágeis.