Para Marina Pecoraro e Suzanne Sobral *
Festa significa comemorar, celebrar, e assim foi a vida de Suzy Capó (1963-2015). Ela gostava da festa, bem. O dicionário também nos lembra que o termo festa é usado para carícias, meiguices e este significado tem algo entre o sexy e o sensual, área que a jornalista, curadora e artista tanto circulou e projetou para todos.
A festa, a sensualidade, o sexo são ingredientes importantes do hedonismo, corrente filosófica e moral criada na Antiguidade Clássica e que foi difundida pelos epicureus e pelos cirenaicos. Nela, o prazer é considerado um bem supremo e dele devemos deixar a vida fruir e fluir. Na modernidade da filosofia, o conceito se amplia e é entendido como a seguinte ideia: a felicidade da vida será melhor se compartilhada por muitas pessoas. É dentro deste último conceito, e não do primeiro, nem o do senso comum que moralmente julga os hedonistas como pessoas egoístas que só querem prazer próprio e fugaz, que Suzy se insere.
Sim, claro que havia uma atitude de enfrentamento suave em sua embriaguez, que não era frequente, mas era como que quisesse desafiar a ordem das coisas: por que homens podem beber e mulheres são consideradas deselegantes ao fazer tal ato? Hedonismo para todos!
Neste sentido seu gesto político sempre se abraçava com sua vontade hedonista. Quando, nos anos 90, ela organizou o primeiro beijaço no país, dentro do restaurante Ritz, em São Paulo, um local que na época, apesar de frequentadíssimo por LGBTs, proibia manifestações de afeto entre casais do mesmo sexo, ela o fez de maneira festiva, alegre e não agressiva como comumente costuma se manifestar a militância. Todos os convocados para o ato entraram no restaurante aos poucos, alguns até pediram um drink, outros ficaram conversando, já que o local estava cheio e quando ela tocou uma sineta, todos se beijaram. Foi festa, foi prazer e foi político e foi para a felicidade maior de um número de pessoas.
Ao deixar o terreno já plantado do Mix Brasil, que foi uma das fundadoras, foi porque o prazer não se encontra no comodismo. Nunca ser medíocre parecia ser seu lema e, com ele, ela se jogou em uma área muito mais radical: a pornografia. Libertar a pornografia de suas amarras morais e entender sem culpa porque ela proporciona tanto prazer no mundo contemporâneo foi uma de suas missões. Missão hedonista, de uma bacante revolucionária.
Hedonê – de onde surgiu o hedonismo – que em grego quer dizer “prazer” e “desejo”, também pode ser lida como “vontade”. E é, neste último significado do termo, que também podemos dizer que a Suzy hedonista se coloca: na vontade de mudar, na vontade de assumir, na vontade de pensar, na vontade de amar, pois é partindo da vontade que pode-se levar a felicidade para todos.
*Texto inédito preparado para a mesa redonda “Pequenas Vanguardas de Suzy Capó”, na quinta edição do PopPorn Festival, em São Paulo, que aconteceu em junho deste ano. Ele acabou não sendo lido, pois meu pai acabou internado na época e falecendo posteriormente, impossibilitando minha ida ao debate.