O Plano Municipal de Educação (PME) da cidade de São Paulo em votação da Comissão de Finanças e Orçamento da Câmara aprovou, em primeira instância, o texto que retira a questão de gênero do projeto. Nesta terça-feira, 11, que o plano será definitivamente votado, acontece um tuitaço à tarde a favor da inclusão das questões de gênero na educação das escolas municipais
Com as hashtags #VaiTerGêneroNoPMEsim, #RespeitoTambémSeAprendeNaEscola, #GêneroépazparaTODASasfamíliasJÁ pretende-se que o respeito para as diferenças entre cis e trans sejam ensinados nas escolas. “O que está acontecendo com o PME é um enorme retrocesso. Além de vários outros itens importantes, como o número de alunos por classe, por exemplo, eles querem retirar a cláusula que trata de igualdade de gênero e respeito às diferentes etnias”, disse para o Blogay a tradutora Liege Simões, 51, que é contra a retirada da questão no projeto.
Para o blog, Majú Giorgi, 49, coordenadora do grupo Mães pela Diversidade contextualiza: “Da mesma forma que o kit anti-homofobia virou o kit gay, a questão de gênero virou ideologia de gênero. Pedimos apenas para que se iniba o preconceito para dar condições a pessoas LGBT estudarem, eles 9 os que são contras) repassam para a sociedade que queremos transformar os filhos deles em LGBTs .Fico sempre me perguntando, qual será o pecado maior, a homotranssexualidade ou a desonestidade e a mentira. Porque um desses aí me parece ser um pecado capital (risos)!”
Sobre a questão da nomenclatura ideologia de gênero, criada pelos fundamentalistas, o pastor José Barbosa Junior, na página Jesus cura a Homofobia, argumenta: “É uma questão de verdade e como tal deve-se levantar contra a enxurrada de mentiras e descalabros que se apresenta pelos ‘defensores da fé’ erroneamente (e muitos sabem disso) como ‘ideologia de gênero’. Não há essa ‘ideologia’ porque não há empoderamento para tal. O que há é um clamor por igualdade. Se há uma ideologia por trás disso tudo, é a ideologia machista, que se vale de argumentos ‘religiosos’, manipulados vergonhosamente por políticos e líderes religiosos sem escrúpulos para o engodo e engano das massas de manobra que são os seus rebanhos. Segundo a Bíblia, o pai da mentira é o diabo. Não hesito, então, em dizer que muitos que se dizem ‘cristãos’, ao propagarem a mentira e o engano, fazem-se filhos daquele que chamam de inimigo de suas almas.”
Giorgi identifica os que são contra a inclusão da questão de gênero na PME como “vertentes religiosas como católicos carismáticos e evangélicos neopentecostais , os arautos do retrocesso”. E Simões enfatiza: “Eles não querem este item no plano por causa do poder. Para manter o obscurantismo em nome de Deus, eles precisam arrumar um inimigo público, e elegeram os LGBTs. Os evangélicos neopentecostais querem a presidência há tempos, e nada como arrumar um inimigo comum para iniciar uma guerra santa.”
O estudo do projeto com a inclusão de gênero foi feita por especialistas e o pastor Junior quase desenha para explicar o fato: “Se meu carro tem problemas, quem eu procuro para consertá-lo, o mecânico ou um religioso? A não ser que o líder religioso seja também mecânico, de nada adiantará o seu fervor religioso se não souber mexer nas peças certas, apertar os lugares certos e trocar o que for preciso trocar. Ora, durante anos, especialistas na área de educação, psicologia, pedagogia e tantos outros profissionais e técnicos do assunto debateram a questão de gênero e sua importância nos planos municipais de educação (e também no nacional). Porque é que agora eu tenho que submeter os anos de trabalho de especialistas a um grupo movido por questões religiosas? É, no mínimo, absurdo que isto aconteça”.
A questão da educação é fundamental contra a intolerância. O livro “This Book is Gay” de James Dawson conta que na Inglaterra quando existe violência homotransfóbica dentro da escola, a diretoria tem que ser informada e os autores da agressão são punidos. Por outro lado, na excelente ficção de Michel Houellebecq, “Submissão”, a trama se passa com a vitória da Fraternidade Muçulmana nas eleições presidenciais da França. E as mudanças na verdade começam sutis mas todas pela educação e a universidade que era pública transforma-se em islâmica. Metáfora perfeita para entender porque os fundamentalistas no Brasil se empenham em barrar medidas que visam a igualdade para as minorias no campo do ensino e porque forjam construções mentais simplistas baseadas em mentiras, pois é isto que eles querem que seja ensinado: o preconceito.