Durante 30 anos, o Autorama, um estacionamento no Parque Ibirapuera, de dia também servia para exames para obter carta de motociclistas e motoristas e para aulas de algumas autoescolas, e à noite era um espaço de socialização LGBT foi fechado, em 2013, pela Prefeitura de São Paulo. Nesta quarta-feira, 29, às 18h30, acontece uma reunião extraordinária do Conselho Gestor do Parque Ibirapuera que irá debater a possível reabertura do espaço e quem encabeça a ideia é Bill Santos, 38, empresário, eleito como membro do conselho do parque pela comunidade LGBT.
Conhecido como Bill da Pizza, pois foi exatamente neste espaço que ele vendia pizzas, o empresário tem um projeto para a abertura do espaço com apoio da prefeitura que, durante todo esse tempo, sempre negligenciou o local.
Sim, o Autorama era local de pegação (o que irritava muito os moradores locais), e também era um ponto de encontros e namoros para muitos LGBTs, enfim, um lugar de afirmação de sua orientação sexual e de sua identidade de gênero. Além disso, também foi palco de atividades culturais como exibições de filmes do Festival Mix Brasil, em 2006. Sente-se, que apesar das diversas alegações para o fechamento do Autorama (falta de segurança, tráfico de drogas e prostituição infantil), existe um fardo pesado de uma certa pressão moralista pelo espaço ser da comunidade de gays, transgêneros, bissexuais e lésbicas.
O Blogay conversou com Bill da Pizza sobre o Autorama
Blogay – O que é o Autorama para você?
Bill Santos – O Autorama é um espaço no Parque do Ibirapuera que historicamente se caracterizou como ponto de sociabilidade LGBT, mas não só, atraía pessoas das mais diversas orientações e identidades sexuais, era um ambiente de trocas e recreação que funcionava todos os dias à noite. O Autorama serviu de espaço cultural e histórico para milhares de LGBT por mais de trinta anos.
Qual a importância do Autorama para a vida LGBT da cidade de São Paulo?
Qualquer espaço público de sociabilidade da diversidade gera mais respeito, educa as pessoas à tolerância e diminui a discriminação de grupos historicamente marginalizados, sobretudo àqueles que a sociedade prefere ver em espaços privados, isolados do convívio público, como as LGBT. O reconhecimento de uma comunidade, sobretudo a LGBT, também passa pela sua visibilidade e sociabilidade entre seus pares. Isso só fortalece nossas identidades e quem somos.
Por que ele foi fechado pela atual gestão da Prefeitura de São Paulo?
Ele foi fechado depois de muita pressão política de moradores locais, contrários que aquela área do parque fosse frequentada pela população LGBT à noite, pois, segundo eles, aquilo abria espaço para irregularidades. Um dossiê foi enviado à Câmara Municipal e através da Secretaria do Verde e Meio Ambiente e do Conselho Gestor do Parque o espaço foi isolado há mais de um ano, depois de décadas de vida, a despeito do desejo dos trabalhadores e pessoas que ali frequentavam.
Como ele poderá ser reaberto? É possível?
Uma comissão formada de membros da sociedade civil do Conselho Municipal de Diversidade Sexual apresentou uma proposta de readequação do Autorama, garantindo à ele todas as possibilidades de segurança para convívio de seus frequentadores e moradores locais. O projeto foi apresentado à prefeitura que contou com a anuência da Coordenadoria de Diversidade Sexual e do próprio secretário de direitos humanos na época, Rogério Sotilli, mas até agora nada caminhou para sua reabertura. O Conselho Gestor do Parque resolveu pautar o assunto após pressão popular e agora esperamos construir coletivamente a reabertura do Autorama.
Quem é contra sua reabertura?
Os moradores locais que também assentam no Conselho Gestor do Parque são contrários à reabertura. Agora, é tarefa nossa lutar para que esse espaço não fique à mercê do interesse de poucos frente ao interesse de milhares de LGBT. O parque ainda é público.