Levantar bandeiras (ou bandeirinhas?) pode ser um algo desprezível para uns ou totalmente necessário para outros. Para quem ainda não sabe , o termo significa reivindicar algum direito, lutar por algo que acredita. Dentro deste espectro surgem duas pessoas que pensam de forma totalmente diferente: um deles é o estudante de psicologia Ronny Richter, 19 e outro, o ator Luiz Fernando Guimarães, 65.
O ator causou nas redes sociais, depois de uma entrevista para o jornal “Extra”, no domingo, 17. Após recentemente assumir publicamente (ou seria midiaticamente?) um namorado, Adriano Medeiros, Luiz Fernando declarou ao periódico: “A solidão independe de você estar casado ou estar com 300 pessoas e se sentir só. É um estado de espírito. A gente é casado, e não mora junto. Nunca falei sobre isso porque não vou levantar bandeirinha. Acho um saco. Acho que todo mundo sabe da minha preferência sexual, nunca ninguém me perguntou sobre isso, não tenho a menor vontade de conversar sobre porque o nome disso é intimidade”.
Logo os comentários começaram a aparecer no Facebook. O digitador e militante Júlio Marinho, 47, comentou: “Luiz Fernando Guimarães diz que não levanta bandeiras em relação à sua sexualidade, ok. O ator só não entendeu que, se ele hoje pode falar isso tranquilamente numa entrevista, é porque muitas outras pessoas não tiveram vergonha de levantar essas bandeiras, aliás, não só não tiveram vergonha, como tiveram – e ainda têm – muito ORGULHO. Pois é, muito fácil ‘não levantar bandeira’, mas se beneficiar das conquistas de quem as levantou, assim é mole”.
Já o escritor Ricardo Rocha Aguieiras, 69, postou, fazendo uma parábola bem ilustrativa: “SOBRE O “DIREITO DE NÃO LEVANTAR BANDEIRAS”, que andam falando muito por aí, em cima de declarações de um ator… Ok, então teremos que patrulhar todos os/as heterossexuais do mundo, porque todos/as que conheci levantam muito a bandeira da heterossexualidade. Mas, como é ‘natural’ e aceito, ninguém repara… Bora sair por aí e proibir heterossexuais da bandeira de procriarem , da bandeira de seus casamentos na Ilha de Caras, das fotos que famosos heterossexuais publicam no seus Face e Instagrams da vida, beijando o sexo oposto, orgulhosos. Vamos patrulhar essas grossas alianças de ouro que heterossexuais usam para provar que estão num compromisso heterossexual, vamos patrulhar os 112 direitos que eles, heterossexuais, tem a mais na Constituição Brasileira, vamos patrulhar todos os beijos héteros das novelas, vamos patrulhar comerciais que dizem que se você usar o perfume tal consegue o sexo oposto tal, lindíssimo, nas paqueras… ah, pois toda hora heterossexuais levantam bandeiras da heterossexualidade, não é mesmo?”
Antes que as fã-náticas de Luiz Fernando venham aqui linchar este blogueiro, é importante deixar claro que não é a capacidade de interpretação (acho ele um ótimo comediante), muito menos a pessoa que está sendo criticada, mas sua posição diante um fato, que ao meu ver está muito equivocada. De certa forma, concordo com as críticas acima e fecho com as aspas de Tim Cook, CEO da Apple: “Eu não me considero um ativista, mas percebo o quanto me beneficiei do sacrifício de outros. Então, se ouvir que o CEO da Apple é gay puder ajudar alguém que esteja com dificuldades para se aceitar, ou trouxer conforto para alguém que se sente só, ou inspirar pessoas para que insistam em sua igualdade, então isso vale o preço da minha própria privacidade”.
Já Ronny é hétero, gosta de rock e por isto cultiva um cabelo comprido, na melhor tradição rocker. Ele estuda psicologia a faculdade Anhembi-Morumbi, em São Paulo. Em uma recente discussão em um grupo da sala de aula ao qual ele era contra a redução da maioridade penal, ficou sabendo de um recado de outro aluno da classe, no Whatsapp, que dizia, se referindo a ele, em tom de zombaria, como “o menino de cabelos longos afeminados”. Aliás, a pessoa acreditava que estava o diminuindo ao chamá-lo de afeminado.
O estudante nunca sofreu bullying, e, como disse ao Blogay por telefone, “continuo não sofrendo”, porém, sentiu que deveria fazer algo em relação a esta mensagem. “Era um recado que diminuía os meus amigos gays e as meninas da classe, e o que me machuca é que ele pode machucar meus amigos gays e mulheres, como se tivesse problema em ser afeminado”.
No dia seguinte, ele resolveu ir com um vestido da irmã, para se posicionar contra a homofobia e o machismo. “Cheguei atrasado de propósito para causar comoção. Entrei na sala e foi aquele impacto. O professor e a maioria dos alunos apoiaram a minha atitude e acabamos tendo um debate sobre o assunto. A roupa, o cabelo que a gente usa assim como a nossa sexualidade não mudam nada do que a gente realmente é”.
“Não fiz isso só por mim, muito pelo contrário”, disse ele, sabendo exatamente o significado maior de levantar bandeira, o quanto de generosidade existe neste ato.
Ronny, fã do Nirvana, disse que também se inspirou em Kurt Cobain para fazer esta espécie de manifesto, outro que levantava bandeira a favor dos direitos LGBT da mesma forma que se jogava em um mosh: sem o menor problema.
Abaixo, Nirvana canta (algumas vezes vestidos de saia) o hoje clássico sucesso “In Bloom” que significa em inglês florescer. Que floresça mais Ronnys!