Nas últimas semanas, rolou e polemizou-se na web sobre uma foto de um casal gay de mãos dadas andando no metrô. A discussão partiu não por ser pessoas do mesmo sexo manifestando afeto, muito menos por expô-lo em público, dentro de um vagão de metrô. A raiva das “haters” estava no fato do casal ser formado por um ocidental, branco, barbado e dentro dos padrões convencionais de beleza e o outro asiático, mais feminino, cabelo pintado, estatura mediana. A raiva da diferença, do outro.
Os comentários, principalmente entre os homossexuais, eram cruéis pois atingia algo que desconforta, como se a foto fosse uma afronta. Uma parte do casal apresenta-se mais feminino (e a sociedade ainda vê a mulher como um ser de segunda classe e ainda a maioria dos gays tem problema com sua feminilidade ou de assumí-la, todos se acham muito macho), e é asiático sem traços ocidentais ( em um belo ensaio em seu livro, “Banalogias”, Francisco Bosco escreve: “Hoje assistimos, sem qualquer assombro, as negras louras como Mariah Carey ou Beyoncé Knowles: louras de cabelo liso e traços finos […] o que se nota é que a beleza de todas as ‘raças’ é admitida desde que seja mediada por traços ocidentais. Em outras palavras, isso quer dizer que o japonês será mais bonito quanto mais ocidental e menos japonês ele for, o negro idem, o chinês, também etc. Em suma, o multiculturalismo estético é, em sentido profundo, a negação da diversidade das culturas”), e como, muitos gays protestaram, ele está com um homem tão belo? Tudo isto estava simbolizado na figura de Naparuj Mond Kaendi, um diretor criativo de uma agência de modelos, na Tailândia.
Logo, levantou-se a suposição que o namorado, o alemão Thorsten Mid era modelo, devido à beleza e que a relação, é óbvio, seria de interesse. Mas ele é engenheiro. E, é claro, que os comentários maldosos e, depois, as respostas em defesa do casal chegaram até eles, que responderam: “Obrigado a todos vocês pela ajuda e por toda a positividade. Para ser honesto, eu não fiquei tão surpreso quando pessoas do nada foram falar comigo ontem à noite e mostraram para a gente todas as nossas fotos que foram postadas a tarde inteira. Isso já tinha acontecido antes, exatamente um ano atrás, e todos os comentários desagradáveis me deixaram em lágrimas e cheio de preocupações. Este ano, porém, Thorsten e eu inesperadamente estamos nos sentindo tão agradecidos e cercado por essa onda de enorme apoio. Nós nunca quisemos estar sob os holofotes, mas muito obrigado, de qualquer forma.”
Chama muito a atenção sempre, numa primeira leitura, uma minoria ter preconceitos. É mesmo lamentável a crueldade com que trataram o casal, muitos deles homossexuais, pessoas que também sofrem preconceito. Entretanto, a defesa do casal também partiu da comunidade LGBT.
Porém, é importante atentar que na nossa formação somos alimentados de preconceitos de toda a natureza. Nossa formação cultural têm dificuldade com o outro, com o diferente e, em algum momento, mesmo que por um período, ou mesmo muito rapidamente, também sofremos preconceito porque em outro prisma também somos o outro de alguém, a alteridade de outro.
Claro que isto não é desculpa para defender o preconceito, mas para atentar para a falsidade dos que se dizem sem preconceito (eu mesmo tenho inúmeros, civilizadamente educados ou até que já foram expulsos). Faz parte da humanidade o preconceito, e quando reclamam que é um absurdo gays terem preconceitos, eu digo que é perfeitamente compreensível, pois os homossexuais também fazem parte da raça humana, por mais que os fundamentalistas queiram nos colocar como sub-raça.
É humano, demasiadamente humano, o preconceito, agora alimentá-lo já é uma forma perversa e obscura do homem. Vida longa ao casal Naparuj Mond Kaendi e Thorsten Mid!