A agitadora cultural, atriz, produtora, curadora, militante, jornalista Suzy Capó morreu no sábado, 10, em São Paulo, aos 52 anos. A causa da morte não foi divulgada. Ela será enterrada em Brasília, na terça-feira, 13, no Cemitério Campo da Boa Esperança.
Suzy é uma destas peças fundamentais do movimento LGBT sem nunca pedir holofotes. Ela foi cofundadora do MixBrasil, o Festival da Diversidade Sexual, criou o termo GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), fundamental nos anos 90, na época em que entendeu que era muito importante agregar homos e héteros (os simpatizantes) em uma mesma conquista: a liberdade (seja ela sexual ou individual, o que no fundo é a mesma coisa).
Agregar é uma coisa que Suzy sabia muito bem fazer, com facilidade unia diretores, produtores, fazia amigos de seus amigos ficarem amigos, criava o ambiente para que coisas acontecessem e assim foi com o Mix, e com o primeiro selo de distribuição de filmes LGBT do Brasil, o Festival Filmes, ou o primeiro festival que debatia a pornografia, o PopPorn.
Também tinha entendimento que a imagem era importantíssima para as questões ideológicas, políticas e sexuais, por isto, sempre esteve ligadíssima ao terreno do audiovisual e da militância, mesclando os dois, mas sem sectarismo e verdades prontas. Suzy foi sempre dos questionamentos, mais do que das certezas cheias de rigidez, uma grande lição que a militância que a acompanhou aprendeu.
Outra lição, ela sempre fez questão de que a arte não se separasse da política, ou que esta se sobrepusesse a outra. A arte e o bom humor! Por um militância mais artística e bem humorada, esta é uma das lições valiosas que Suzy sempre fez questão de ter em seus princípios. Assim como o hedonismo, nada de LGBTs caretas, comportadinhos para serem melhor aceitos pela sociedade dita “normal”. Pelo desbunde, pela alegria, pela vida plena, era o que desejava Suzy.
Ela era uma gata de botas (e tinha umas lindas e era muito elegante). Em Brasília, cidade que cresceu (apesar de ser do mundo) agitou a cena como atriz, se formou em jornalismo, depois deu um pulo de léguas para Nova York para estudar Teoria de Cinema e Performance. Voltou ao Brasil, fez o Mix, o selo Festival Filmes, o PopPorn, editou o site gay Supersite, foi uma das incentivadores da “Dicionária Aurélia” e foi sereia, ou melhor, foi a Lady Una Troubridge (que teve um romance de 32 anos com a escritora Radclyffe Hall), na peça de Vange Leonel, “As Sereias da Rive Gauche”, foi jornalista, foi o que desejou.
A garra, a vontade, o ímpeto, o questionamento que eram tão inerentes de Suzy assim como a risada, a ironia, o deboche, o amor pela arte, pelo hedonismo, pelo prazer e pela liberdade vão fazer muita falta em um mundo que está a cada dia mais radicalizando-se. E principalmente, a sua vontade e seu projeto de liberdade, que era algo central em seu pensamento. Suzy Capó soube como poucos unir militância, poesia e alma libertária. R.I.P.