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A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo

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Revista reflete sobre o porquê dos avanços de direitos gays em alguns países sinaliza retrocesso em outros

Por Vitor Angelo

No dia 11 de outubro, no meio da convulsão e comoção causada pela Suprema Corte dos Estados Unidos ter elevado para 24, mais o Distrito Federal, os estados americanos que o casamento igualitário é permitido, a revista inglesa “The Economist” fez uma capa sobre como o avanço dos direitos dos homossexuais em alguns lugares acaba também causando o retrocesso em outros. Com título de “The Gay Divide” (algo em português como “a divisão gay” [no mundo e em relação aos seus direitos]), a publicação faz uma longa reflexão sobre a contraposição de ao menos 113 países onde as relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo são legalizadas e de outros 78 lugares no mundo que a homossexualidade é considerada crime. Aliás, alguns deles, recentemente, aprovaram leis severas, incluindo a pena de morte para gays e lésbicas.

A história de tolerância começa pela própria revista. Em 1996, com uma capa com dois bonequinhos vestidos de noivos, em cima de um bolo de casamento e com a manchete “os deixem se casar”, a “Economist” recebeu o recorde de cartas hostis à posição da publicação. O tempo passou e, com certeza, os protestos homofóbicos também. A revista não recebeu nenhuma carta queixosa da atual capa que são as mãos de dois homens juntas.

Capa da revista inglesa "The Economist" (Divulgação)
Capa da revista inglesa “The Economist” (Divulgação)

Esta perspectiva mais tolerante pode ser comprovada se pensarmos que, em 1985, apenas 24% dos americanos declararam que tinham algum amigo ou parente homossexual, e hoje, são mais de 75%, segundo dados da revista. No Brasil, 60% da população acreditam que a homossexualidade deve ser aceita e na Argentina, 74%. Além disso, é uma questão muito  tranquila para os mais jovens. Outro dado da publicação aponta que apenas 16% dos sul-coreanos acima dos 50 anos pensam que os gays deveriam ser aceitos contra 71% dos jovens adultos de 18 a 29 anos de idade.

Por outro lado, países muçulmanos e na África endurecem suas ações contra os homossexuais. Nigéria e Uganda aprovaram leis bem duras contra os gays e o estupro corretivo de gangues africanas contra lésbicas é uma realidade muito mais perversa do que gostaríamos de acreditar. Neonazistas russos também fazem suas caçadas contra homossexuais, os espancando e fazendo humilhações públicas, com o silêncio ou consentimento da polícia. O russo Vladimir Putin, para agradar homofóbicos e uma boa parte da Igreja Ortodoxa, promulgou uma lei que é proibida qualquer “propaganda” da homossexualidade, isto inclui declarar-se gay. Os presidentes de países africanos seguem a mesma linha, usam os gays e leis que os demonizam para encobrir casos de corrupções e outros escândalos, além de estes atos fazerem uma média com seus eleitores mais conservadores.

A tese da revista é muito interessante, mas faltou analisar mais a fundo o que está atrás deste jogo de chamados retrocessos. Na verdade, estes países que agora baixam leis anti-gays nunca foram tolerantes com os homossexuais, muito pelo contrário, as perseguições sempre existiram (não esqueçam que LGBTs eram presos e levados para os gulags, os campos de concentração e trabalho forçado do antigo regime soviético, de onde emergiu a Rússia atual) , mas agora a intolerância entra de forma ainda mais legalizada, isto é, o Estado ratifica uma situação que já existia de forma orgânica no meio destas sociedades.

Outro ponto importante, e que apesar de tocada nas reportagens e artigos da “Economist”, poderia estar de maneira mais explícita  é a questão do Ocidente e do multiculturalismo. Para se opor aos chamados valores ocidentais (explícitos principalmente na globalização), tanto a Rússia, países muçulmanos e alguns africanos escolheram um item que conseguiriam apoio massivo para suas políticas ultranacionalistas e/ou religiosas: os direitos LGBTs. Bandeira de países progressistas, como o de boa parte que integra a União Europeia, as questões dos direitos de igualdade para gays, lésbicas e transgêneros servem na medida para países com forte presença do patriarcalismo discursarem que os homossexuais são uma praga do Ocidente e que devem ser combatidos pois maculam a identidade nacional. Os gays, na verdade, são um bode expiatório ou  vanguarda de um exército, se preferir, para uma guerra muito maior que é o da globalização ocidental e seu multiculturalismo contra o nacionalismo radical.

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