Pense em algo invisível e, logo, chegará à lesbianidade. A começar por serem mulheres e as mulheres são mais invisíveis que os homens em nossa sociedade, isto é, questões referentes ao feminino são, quando possível, postas de escanteio e/ou banalizadas e reduzidas (pense a discussão sobre o aborto, por exemplo). Dentro deste quadro, quando mulheres transam e/ou amam outras mulheres, muitas vezes, elas apenas são permitidas porque estão dentro do fetiche do homem hétero (o problema não está no fetiche e sim no apenas). Contra este quadro que pouco mudou, foi criado há 18 anos e entra em sua maioridade este ano, nesta sexta-feira, 29, o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. Em São Paulo, as comemorações se estenderão até sábado, 30, no Largo do Arouche.
“Não é fácil construir vidas que ‘escapam’ das regras e imposições da heteronormatividade, e reconhecemos os desafios que enfrentamos nas nossas vidas privadas e coletivas. Seguimos fortalecendo nossas propostas coletivas e horizontais e reforçamos o significado do mês da visibilidade lésbica e bissexual como uma oportunidade para desconstruir a categoria de ‘minoria’, de lutar contra a ‘guetização’ dos nossos espaços e a segregação das nossas vidas, e de mostrar nossa produção cultural e militante”, diz o texto do convite ao festival postado no Facebook.
O evento pretende reunir escritoras, poetas, músicas, cantoras, e contará com oficinas de rua, como stencil, cartazes e batucada feminista. O horário é das 14h às 18h e é gratuito.
Ao negar a visibilidade das lésbicas (transformando-as em fetiche de fantasias do homem hétero), a chamada heteronormatividade nega o ser lésbica e com isto, sua existência. É como se o amor lésbico fosse apenas uma brincadeira um entretenimento um passatempo, algo lúdico. Se algo não existe, não pode ter voz, nem direitos. É uma situação muito maior que de negação, pois nega-se o que existe, e para muitos elas nem a isto têm direito. Por isto a questão da visibilidade para as lésbicas é central e muito mais urgente do que para os homossexuais masculinos.
A questão da lesbianidade não encontra só problemas em seu enfrentamento com a chamada heteronormatividade. Ela enfrenta o machismo encrustado dentro dos GBTs. É comum (mas não é regra), muitos gays desprezarem as lésbicas, as acharem tacanhas e não conseguir fazer pontes de identificação. Tentar construir pontes de identificação entre gays e lésbicas se faz necessário a todo instante, pois o objetivo é o mesmo, questionar o machismo e reivindicar a diversidade, não endossar um e contrariar o outro.
Por fim, exatamente por ser totalmente fluida a transição das mulheres entre as orientações sexuais (mulheres hétero e bi que tiveram uma relação sexual com outra mulher é muito mais comum de serem assumidas do que entre transas entre homens), elas têm que ser éticas e honestas. Explico, a fluidez é algo interessante e rico na sexualidade, mas no caso das mulheres ela é permitida exatamente pelo fetiche masculino citado acima. Então, quanto menos negação a esta fluidez melhor, mas assumir o amor por outras mulheres, mesmo que depois o objeto (no caso das bi e das curiosas) volte a ser o homem. Isto é vital para tirar a invisibilidade da lesbianidade. Tornar visível, este é um papel polítco da lésbicas e de quem as apoia.