Vange Leonel morreu, aos 51 anos de idade, na tarde desta segunda-feira, 14, vítima de câncer nos ovários. A cantora e escritora ficou nacionalmente conhecida pelo hit “Noite Preta” , que era simplesmente a trilha da abertura de uma novela de grande sucesso, “Vamp”, em 1991, na TV Globo.
Além de cantora e escritora, Leonel era feminista e ativista LGBT. Escreveu durante nove anos, na Folha, quinzenalmente na “Revista da Folha”, a coluna GLS. Seu papel na história dos direitos gays passa pelo de sua vida. Quando seu grande sucesso comercial “Noite Preta” ainda ecoava nos ouvidos de muitos, ela, diferente de boa parte das cantoras de MPB (lésbicas) que se escondem em armários ou em discursos que a sexualidade pouco importa, resolveu escancarar e assumir sua lesbianidade, em 1995. E com ela, o grande amor de sua vida, a jornalista Cilmara Bedaque, que esteve junto da cantora até os últimos instantes de sua vida.
Se Angela Ro Ro foi pioneira ao assumir-se lésbica de forma orgânica, maravilhosamente escandalosa, em um ambiente tão auto-repressor como o vivido por algumas cantoras brasileiras, Vange veio dar um segundo passo, ao declarar-se que também amava as mulheres (ou melhor, a mulher Cilmara), agora mais consciente, militante, mas não menos apaixonada. A atitude de Daniela Mercury de assumir seu amor por outra mulher parte, dentro de uma perspectiva histórica, de um caminho aberto por Vange.
Seu corpo será cremado no Horto da Paz, das 10h as 14h em Itapecerica da Serra, São Paulo. E esta coluna encerra com um antigo texto de Vange, na coluna GLS, que cabe muito para este momento: “Não gosto de despedidas. Ainda que me alivie pensar que os ciclos se fecham, e realmente desejo e espero que seja assim, despedidas formais me deixam constrangida. Adoraria escrever um texto de encerramento como se fosse uma simples coluna de meio de temporada. Mas é impossível: tenho que fechar o ciclo”. Pensemos a vida como um ciclo!