Assim como os gays e a homofobia saíram do armário, a denúncia também tem que mostrar sua cara. Dois exemplos recentes: o grupo que gravou um funcionário da supermercado Extra em um ato homofóbico e um casal em Curitiba que foram ameaçados à faca e deram queixa na delegacia.
O primeiro ato aconteceu no dia do fatídico jogo do Brasil contra a Alemanha, na terça-feira, 8, na supermercado Extra do Shopping Aricanduva, em São Paulo, e foi todo gravado em vídeo. Segundo um dos que participou do evento, Tiago Freire Galharde, 27, contou para o Blogay por telefone: “era um grupo de umas 15 pessoas, uns entraram para comprar cerveja para uma outra festa e outros ficaram esperando. Um casal de amigos se abraçou e deu um selinho, quando o funcionário que aparece no vídeo veio e falou: ‘vocês podem ficar aqui, só não podem fazer baixaria’”.
Todos entenderam que a baixaria era ser homossexual e dar um selinho. Tiago disse que eles não estavam fazendo nenhuma baixaria. O funcionário falou que um casal hétero poderia se beijar, mas um casal gay não. Como pode ser conferido no vídeo que foi compartilhado nas redes sociais.
Tiago contou que recebeu, depois do vídeo, recados de um homossexual e um casal de lésbicas que já foram acuados pelo mesmo funcionário. Eles mesmo ficaram apreensivos pois ele disse que funcionário ameaçou que, “depois de bater o cartão, ia dar sua opinião do lado de fora”. Além do funcionário, no vídeo aparece também um senhor de azul que disseram para o grupo que era gerente e que, no final, eles chamaram os seguranças para encerrar a discussão.
O grupo vai se reunir na noite desta sexta-feira, 11, para decidir o que fazere como proceder em relação ao ocorrido e já receberam apoio de advogados e ativistas LGBTs para denunciarem o ato no Decradi, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, dentro da lei estadual anti-homofobia 10.948/01, que pode gerar multa, e até cassação da licença de funcionamento.
A assessoria de imprensa do grupo Pão de Açúcar, ao qual pertence o Extra, mandou comunicado condenando a atitude do funcionário ao Blogay (leia no final da matéria).
Já em Curitiba, no dia 22 de junho, o repórter do Uol, James Cimino, 38, e seu namorado Vinicius Ribeiro, 25, estudante, estavam andando de mãos dadas pelo centro da cidade quando sofreram agressões verbais, revidaram e foram ameaçados à faca.
O próprio Cimino conta: “Estávamos eu e meu namorado andando de mãos dadas pelo centro. Fomos até a praça Tiradentes para que mostrar pra ele a Catedral e o Marco Zero quando um cara bêbado, com cerca de 40 anos (ou mais) começou a gritar que era muita coragem nossa passar ali. Em seguida começou a gritar perguntando quem era o homem e quem era a mulher. Retrucamos perguntando se ele queria apanhar de dois caras, aí veio um amigo dele, outro desses velhotes de cabelo grisalho de raiz amarelada, com dentes igualmente amarelados de cigarro e café e puxou um canivete pra gente. ‘Deixa vir!’, disse ele. Aí eu gritei pela polícia”.
E prosseguiu: “Como estamos em Copa, o policiamento na região está ostensivo. Imediatamente se apresentaram cerca de dez policiais, que nos trataram como todo policial deveria tratar todo mundo todos os dias do ano: com educação e respeito. Recomendaram que fôssemos prestar queixa e fomos. Os caras foram pegos, mas entre eu gritar pela polícia e eles os pegarem, eles já tinham se livrado do canivete. Provavelmente passou para algum comparsa que estava ali, porque antes de ser pego, ele se escondeu na banquinha de jornal do local, onde também guardava suas coisas. Os caras provavelmente o acobertaram. Como ia demorar muito para conseguirmos dar depoimento, e nosso ônibus era por volta de meia-noite, deixamos nossas fichas de identificação e assinamos que decidiríamos posteriormente o que faríamos a respeito. Os dois caras foram fichados e um deles ficou nos provocando o tempo todo dentro da delegacia, mesmo perante os policiais, que uma hora mandaram ele calar a boca”.
De qualquer forma, mesmo com eles sendo soltos depois, os dois homofóbicos tiveram um certo trabalho e ficaram numa situação desagradável, foram fichados e pensarão duas vezes na próxima vez se querem ter sua tarde interrompida pelo direito de ostentar sua homofobia. Por isto, denunciar sempre.
Outro lado
A assessoria do supermercado extra enviou ao Blogay o seguinte comunicado: “O Extra esclarece que repudia qualquer ato discriminatório e pauta suas ações no respeito à diversidade. A rede ressalta que qualquer ação contrária a essa política, se realizada, está em total desacordo com o Código de Conduta da Companhia, documento que orienta o padrão de comportamento dos colaboradores da rede. A empresa informa que o assunto está sendo avaliado com todo cuidado para que sejam tomadas as medidas devidas e até que se apurem as responsabilidades, o funcionário será mantido afastado”.