Claro que agressões físicas contra LGBTs são a marca visível da homofobia, assim como os gritos de “puto” (viado, em uma gíria do espanhol falado no México e em outros países latino-americanos) escutado nos estádios nesta Copa do Mundo, mas ela só é a expressão em exagero de uma outra mais silenciosa, comedida e “educada”, aquela que se faz no silêncio e no constrangimento de uma minoria. Foi assim que entendeu Júlia Esmanhoto, 33, que trabalha com políticas públicas e relações governamentais, a atitude da gerente do restaurante Santinho do Museu da Casa Brasileira ao pedir para que um casal gay amigos dela “maneirasse” na demonstração de afeto.
O fato aconteceu há duas semanas durante uma festa junina que acontecia no museu. Ela, mesmo passado este tempo, resolveu procurar o Blogay pois achou que a situação não poderia morrer ali. Esmanhoto foi com o marido, uma amiga francesa e um casal de amigos, um catarinense e outro inglês, ao restaurante pois, além de ser um espaço aberto, raro na cidade, ela poderia mostrar a culinária brasileira. “Eles acabaram conhecendo outra faceta de uma parte do país”.
Segundo ela, “meu amigo e o namorado dele inglês deram um selinho e um estava com a mão na perna do outro, até que uma senhora de 50 anos se aproximou e, de forma muito educada, pediu para que os dois tivessem descrição”. Júlia relata: “eu não acreditei que aquilo estava acontecendo ali e disse que aquilo era preconceito e discriminação”.
Ao saber que era gerente do restaurante (ela disse que não conseguiu o nome da senhora, pois logo depois, ela desapareceu de cena), Júlia ficou mais indignada. “Meu padrasto é negro, eu sou mulher, eu conheço muito bem este tipo de discriminação e preconceito, que vem de forma sutil e silenciosa”. Júlia percebe esta forma de intimidação também uma violência, diferente da que tira sangue dos LGBTs, mas mesmo assim uma violência contra as minorias. Tanto que ela, mais tarde no mesmo dia, em outro restaurante, viu um casal de héteros se beijando efusivamente e ninguém os chamou a atenção.
Outro lado
Blogay procurou o grupo Capim Santo no qual o restaurante Santinho faz parte e obteve a seguinte resposta: “Todos no Capim Santo estão muito tristes com o ocorrido. É totalmente contrária à nossa filosofia a discriminação, de qualquer ordem. Quem já esteve em nosso restaurante conhece nossa conduta. Além dos muitos clientes homossexuais, temos também muitos funcionários homossexuais, respeitados e felizes. O ocorrido certamente foi uma exceção motivada por uma interpretação pessoal de um comportamento que não nos convém julgar. Gostaríamos de nos desculpar com o casal e convidá-los a nos visitar novamente. O fato só nos fez reafirmar com o nosso staff a missão do Capim Santo: Fazer as pessoas felizes, com comida que conforta, em um ambiente amigável e feliz, para todos.”