Durante anos, drags se reúnem para jogar uma pelada nas ruas da Barra Funda, os moradores se apinham para ver o jogo, a risada corre solta, afinal, nada mais divertido e democrático que o futebol praticado por elas. Ali está a tolerância, o respeito e, mais ainda, o sentido lúdico e mágico que nunca deve ser esquecido no futebol, o esporte enquanto jogo (play).
Jogador heterossexual dá selinho em amigo, publica em seu Instagram e pergunta se a homofobia anda em alta. A resposta vem nervosa, intolerante, radical. O autor do post é obrigado a pedir desculpas para uma torcida organizada mostrando, de forma rude, o quanto ainda precisamos evoluir em termos de respeito. O futebol esquece o seu campo lúdico e entra no do pesadelo de uma sociedade fechada em estigmas rígidos.
Em tempos de Copa no Brasil, o Museu da Diversidade Sexual, em São Palo, abre, nesta quarta-feira , 11, a exposição “Diversidade Futebol Clube: no nosso time joga todo mundo”, com fotos de Roberto Setton sobre a partida de futebol das drags que acontece nas ruas da Barra Funda em frente da boate gay Blue Space. A curadoria de Diógenes Moura, 57, mostra 34 imagens que captam a interatividade entre os moradores do bairro e as drags em um movimento diametralmente oposto do jogador que deu o selinho no amigo e a torcida organizada.
Assim como existe a integração do Museu da Diversidade com o Museu do Futebol, que segundo Diógenes disse ao Blogay por telefone, “colaborou com a trilha da exposição que serão os barulhos das torcidas”.
No texto sobre as fotos captadas por Setton de 2008 a 2012. Diógenes escreve: “Ali, entre a fantasia pública e privada, times e torcida fizeram a festa. Cada imagem apresenta uma espécie de libertação. Não se trata de uma caricatura. É um desafio. Há quem jogue com um bolo de aniversário na cabeça, de saltos altos ou com a inscrição que dá continuidade àquela noite em que Ronaldo, o Fenômeno, foi parar em um motel com travestis e depois apareceu na tv dizendo que estava ‘muito triste, até chorei’. Na camiseta de uma das jogadoras está escrito: ‘Ronaldo, me pega’. Nada mais sutil”.
O grande gol da exposição é este, mostrar sutilezas e cores variadas em um mundo que insiste ser em preto e branco.