Em uma sociedade acostumada a vigiar e punir os homens heterossexuais ou não que saem fora das normas de conduta do padrão do que se entende por masculinidade, ver héteros dando de ombros para o policiamento feito por outros héteros, mulheres e mesmo gays é muito alentador e nos enche de esperança de um mundo com menos patrulha.
Gabriel Yamamoto Nanbu, 30, é jornalista do site “Virgula” e deu de ombros para a policia da sexualidade quando uma amiga da redação, Juliana Tozzi, propôs a ele ser o personagem de uma reportagem que teria de ir à feira LGBT, se montar de drag e participar de um concurso. Em anos de redação, já vi meninas tentarem com que garotos fizessem este papel e a resposta sem foi a da recusa. Brincando com o policiamento e o invertendo, diria que eles não foram machos o suficiente.
Porém, Nanbu, hétero e não diferente dos outros homens, sempre vigiado para saber se sua conduta fugia dos padrões do que consideramos coisa de homem, teve culhões e topou ir fundo na matéria.
Ele se montou de drag (que acabou sendo batizada de Felícia Drag), narrou suas dificuldades sem pudor e, depois da experiência , continuou com a mesma orientação sexual, o medo de muitos héteros, mas estes, diferentes de Nanbu, não se garantem.
Blogay fez três perguntas para Nanbu sobre o assunto:
Blogay – Qual foi a sensação de vestir-se de drag? Como foi a experiência?
Gabriel Yamamoto Nanbu – Foi uma experiência bem bacana, algo pelo qual eu nunca tinha passado na minha vida. Me ver como uma mulher toda maquiada deu um nó na cabeça; às vezes, eu tinha dificuldade de me reconhecer no espelho. A experiência de incorporar a personagem Felícia Drag foi um desafio dos grandes, já que as drags são superfemininas e superextrovertidas, o oposto de mim. Estava totalmente fora do meu habitat, mas visitei um universo muito, muito interessante.
Você não teve medo de bullying ou alguma represália?
Eu fiquei um pouco apreensivo com a reação de algumas pessoas que conheço no Facebook (claro que a reportagem seria compartilhada por lá). Sabia que algumas pessoas não aceitariam bem. No entanto, cheguei à conclusão de que a reportagem seria uma informação positiva na timeline delas, poderia fazê-las repensar alguns preconceitos.
Você acredita que existe uma grande patrulha em relação ao homem hétero para que, a qualquer saída do padrão do que é chamado de masculinidade, acusá-lo de gay. Como você lida com esta patrulha?
Sim, certamente existe. Muitos conhecidos “brincaram” comigo depois da publicação da reportagem. “Finalmente saiu do armário, hein”, “Eu já sabia”, “Que viado” foram coisas que escutei. Eu, muito sinceramente, não me importo. É estranho as pessoas ainda se sentirem ofendidas por serem tachadas de “gay”. Minha sexualidade não tem nada a ver com meu caráter. Sei que muito cara hétero tem medo de se envolver com qualquer aspecto do universo da cultura gay por receio de ser julgado, já que vivemos em uma sociedade heteronormativa e preconceituosa. Eu prefiro não ter medo de ser julgado do que me preocupar em cumprir as expectativas de ser “machão”, super-hétero que assobia para menina na rua e coça o saco…