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Os descompassos da Parada Gay de São Paulo

Por Vitor Angelo

A Parada LGBT de São Paulo, que acontece neste domingo, 4, é a considerada a maior do país, e, talvez, devido sua exposição midiática, a mais importante. Já foi alçada como a maior do mundo e também questionada por esta posição pelo DataFolha. De qualquer forma, pouco importa este complexo de grandiosidade, mas quem sabe este suposto gigantismo a tem feito ter alguns delays, atrasos que a fazem entrar em um primeiro momento descompasso com desejos tanto de uma parte da militância como dos próprios LGBTs.

Este ano, militantes partidários e independentes começaram uma grande campanha para que as paradas gays no país tivessem um tema único, até para que o debate acontecesse de forma nacional. A chamada Lei de Identidade de Gênero, conhecida como Lei João W. Nery, foi proposta como o possível mote de todas as paradas no Brasil.

João Nery, o transexual que deu nome à lei, explica do qeu se trata o projeto: “Toda a mudança de registro deve ser gratuita, mantendo os mesmos números de identificação (como número de RG e CPF) e não pode ter nos novos registros qualquer referência às identidades anteriores ou ao uso da Lei. Também não será dada nenhuma publicidade a essa mudança. A Lei permite também que toda pessoa, maior de 18 anos e capaz, possa requerer intervenções cirúrgicas de mudança de sexo, sem exigir análises ou tratamentos psicológicos, tampouco autorização judicial, o que não impede que a pessoa faça terapia, caso a deseje”.

Uma petição foi feita para a organização da Parada paulistana, mas eles preferiram o tema da criminalização da homofobia.  Aí entra o descompasso do primeiro parágrafo. Nos anos anteriores, grupos independentes levaram esta questão para dentro da parada que preferiu, por exemplo, discutir a saída do armário. A PLC122/06, que criminaliza a homofobia, estava em plena discussão no Senado antes de ser meio “engavetada” exatamente no ano passado (isto é, vai ser discutida dentro com o Novo Código Penal, o que significa muito mais anos para que uma lei igual a que criminaliza o racismo no país possa vir a existir). Quer dizer, o timing do tema deste ano está um pouco defasado, esta discussão deveria estar em paradas anteriores, hoje, ela tem um efeito muito mais educativo do que de pressão social, o que não aconteceria se este fosse um tema que entrasse de forma sistemática nas paradas gays de São Paulo.

Não que a discussão da criminalização da homofobia não seja algo vital a ser discutido, mas ela perdeu, institucionalmente, devido às manobras dos fundamentalistas religiosos no Senado e à desarticulação da militância (como a própria Parada paulistana), seu caráter de urgência. Sabemos que muitos anos levarão para o assunto voltar em pauta no Novo Código Penal.

Entretanto, descompassos pode ser corrigidos. No site da Parada, eles colocaram um banner grande pedindo a aprovação da Lei de Identidade de Gênero.

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Tirando este quase-descompasso da instituição Parada, existe um outro muito mais difícil de resolver, o descompasso dos LGBTs que não se sentem identificado com a parada.  Alguns, em discursos mais moralistas, falam em putarias e exageros, e outros, em discursos mais “pseudo-politizados”, falam em alienação e um palco para exibicionismo de drags.  Mesmo que estes componentes existam, faz parte de todo gay, lésbica, bissexual ou trans consciente entender que, de alguma forma, a parada é a nossa vitrine, onde podemos mostrar uma certa força política e numérica que pode ser um recado aos que estão no poder e insistem em nos negar direitos.

Está insatisfeito com a parada, saiba que ela ainda é muito importante e que a maneira mais política é mudá-la por dentro, se você acredita que ela precisa de mudança. E faça como a própria Parada, entenda que descompassos podem ser corrigidos.

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