Jonas Ferreira da Cruz nasceu na cidade de São Paulo no dia 8 de janeiro de 1975, mas entraria para a história da noite de São Paulo como Jota Jota Davis, nome dado por Estela Davis, na época que ele era o primeiro bailarino nas apresentações da drag queen.
Quando criança, ele já demonstrava para onde sua estrela queria dançar. De família evangélica, ele sempre ensaiava coreografias escondido dos parentes. Quando sua irmã mais nova, Sara Ferreira da Cruz, era pequena, ele era quem sempre dava opiniões sobre as roupas que ela devia vestir e avisava a mãe, dona Arminda Franco dos Santos, onde tinha algum vestido bonito e que combinasse com a irmã. Ele também gostava de organizar festas surpresas. Sim, entre 10, 12 anos, ele preparava o bolo, chamava os amigos, decorava a casa e esperava a mãe chegar, que ficava encantada com a festa surpresa organizada pelo filho.
Estava já no íntimo de sua infância, a tríade que o explicitaria e o transformaria em Jota: dança, moda e festa. E foi com esta santíssima trindade que a noite de São Paulo se encantou por este negro montadíssimo, sempre feliz, dançando muito bem e ainda com um componente de virilidade latente.
Trabalhou como bailarino em diversos shows de casas noturnas, foi barman do Pix, host da Torre, do D-Edge e de tantos outros clubes. Sua figura meio centauro meio fauno foi conquistando espaço e admiração de muita gente que fazia a noite de São Paulo como proprietários de bares e boates, DJs, VJs, promoters e frequentadores (clubbers?), para logo se transformar em um ser mitológico da vida noturna da cidade. Uma pista sem Jota dançando ou uma entrada de clube sem seu sorriso na porta eram com certeza lugares menos felizes.
Nos últimos 20 anos, quem era da cena de São Paulo (e São Paulo é como o mundo todo) sabia quem era Jota Jota Davis, ou Jotinha como era chamado com carinho pelos mais íntimos. Um ícone não se constrói, ele acontece e sempre por uma combinação de carisma e originalidade e isto Jota tinha demais.
Na manhã de domingo, 16, Jonas, 39, morreu de complicações nos rins em decorrência do câncer linfático e com certeza os chill outs foram mais tristes. Uma gente bonita e muito conhecida da noite de São Paulo apareceu em peso no seu velório no Cemitério do Araçá, parecia uma festa de tanta gente bacana – apesar de ser velório – e assim que deveria ser pois Jota era signo de festa boa.
Ele foi enterrado no Cemitério da Vila Formosa, no dia seguinte, e estava de cartola, gravata borboleta, calça de alfaiataria, elegante e montado como sempre. Em seu caixão, ao lado das flores, um tubo de glitter, porque purpurina pouca é bobagem e antiquada para o sempre antenado Jota. R.I.P. JJ Davis!