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A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo

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David Bowie é gay!

Por Vitor Angelo

Não, não é este blogueiro que está afirmando e sim o próprio David Bowie que disse: “Eu sou gay e sempre o fui, mesmo quando eu era David Jones”. A declaração foi feita no dia 22 de janeiro de 1972 para a “Melody Maker”, no começo do auge de sua fama e de extrema importância para os movimentos de libertação LGBT que estavam ainda engatinhando. Eles tinham um símbolo e ele era adorado por milhares de pessoas.

Logo em seguida, cinco dias depois da primeira parada gay na Inglaterra, que contou com a presença de 700 pessoas, no dia 6 de julho de 1972, Bowie se apresenta no “Top of The Pops” com o guitarrista Mick Ronson, montados e andróginos. Para se ter uma ideia, o programa era assistido por milhões de telespectadores, algo como (guardada as devidas proporções) uma novela no horário nobre. O escritor e jornalista inglês Dylan Jones recorda-se daquele momento como crucial na sua vida, quando ainda tinha 12 anos e tinha muitos conflitos com sua sexualidade. “Foi emocionante, um pouco perigoso, mas transformador. Para mim, e para aqueles como eu, ele mostrou que o futuro finalmente chegou”, disse Jones fazendo alusão à sua homossexualidade. Starman!

Foram três minutos e meio e durante a apresentação acontecia um flerte e um abraço (hoje, para nós, sutil e que não achamos nada demais) entre Bowie e Ronson que mudou a vida de muitos gays. Mas também, com aquelas roupas que desafiavam o comum até no rock, a maquiagem e a atitude que confundia o que era masculino e o que era feminino, não poderia ter sido diferente. O apresentador de rádio Mark Radcliffe, na época um aluno de 14 anos de idade, achava que Bowie e Ronson tinham “chegado de outro planeta onde os homens flertavam uns com os outros, faziam uma música emocionante e usavam meias lurex”.

Em 1976, Bowie afirma sua bissexualidade para a “Playboy”. “É verdade, sou bissexual. Não posso negar que eu sei disso muito bem. Acho que é a melhor coisa que já me aconteceu”. E em outro trecho, completava: “Quando fiz 14 anos, o sexo, de repente, se tornou relevante. Não importava realmente com quem ou como era, contanto que fosse uma experiência sexual. Não era difícil levar algum cara bonitinho da classe para casa e transar com ele”.

Sim, todas estas declarações eram em parte marketing, em parte o espírito contestador e provocador de Bowie e também algumas verdades. Mesmo que na década de 80, anos bem conservadores, ele tenha negado suas declarações (Bowie é o espírito de seu tempo), sua contribuição para todo o começo do movimento gay e também para jovens homossexuais ou transgêneros na época foi importantíssima. Era um superstar dizendo ser como eles.

E nos anos 2000, para a revista Blender, ele reafirmou: “Eu sabia o que queria ser: compositor e intérprete, e sentia que a marca de bissexualidade me acompanhava há muito tempo”.

Na verdade pouco importa qual é a verdadeira orientação sexual de Bowie (ele é casado com a ex-modelo somali Iman Abdulmajid desde 1992), mas todo o glitter, a fechação e as fronteiras entre masculino e feminino foram jogadas na nossa cara com sua postura e música. E ela pode ser vista na exposição sobre o músico aberta desde sexta-feira, 31, no MIS, em São Paulo.

Como diz a letra de “Rebel, Rebel”: “You’ve got your mother in a whirl / She’s not sure if you’re a boy or a girl (algo como em uma tradução livre: Você deixa sua mãe perturbada / Ela não sabe se você é menino ou menina)”.  Ao negar o que é normativo e se irmanar com o diferente, com a atitude individual, o desejo e suas escolhas pessoais, sim, Bowie, você é gay, pelo menos de alma, em espírito. E é isto que importa. David, sua vagabunda, te amo tanto!

Tá Bowie?

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