Mal tentamos arranjar forças pra entender a morte de Kaique Augusto Batista dos Santos, 16, que a própria Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SDH) já classifica como assassinato homofóbico, começa a se espalhar pela rede com o título de “Mais um Ataque Homofóbico”, a foto do jovem D.D., 24, cheio de hematomas e que foi agredido na madrugada de sexta-feira, 17, na região da Paulista, em São Paulo.
Ele conta: “Masp/Paulista – Saindo de uma festinha às 3 da manhã, veio um carro em alta velocidade, parou bruscamente, saíram quatro caras e vieram pra cima. Foi tudo muito rápido. Eles entraram rapidamente (no carro) e foram embora . Estou bem, mas onde está a segurança deste Brasil ?”
Um misto de pânico com prevenção tomou conta dos que leram este depoimento, em comunidades LGBTs no Facebook. Será que agora não podemos nem andar em paz na Paulista, um lugar que era considerado de certa tolerância com os LGBTs e a cada ano torna-se palco de mais ataques de ódio.
Esta violência é para que tenhamos medo, que nos tranquemos em casa, ou como desejam os homofóbicos, que voltemos para o armário, como se isto fosse possível. Mais do que ser homossexual, parecer gay ou estar fora das regras de masculinidade ou feminilidade, que acredito que foi mais o caso de D.D. que apanhou sem razão na Paulista, se torna um perigo.
Ficaremos acuados? Não. Reagir e pressionar. Não só militantes preparam diversas manifestações contra o crime bárbaro que matou Kaique, pessoas que não são fazem parte da sigla LGBT se pronunciam contra a violência e a crueldade feita contra um rapaz de 16 anos. Abaixo assinados pedem para que o promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Christiano Jorge Santos, acompanhe as investigações da morte de jovem, já que a polícia alegou a princípio que ele teria se suicidado, mesmo com todos os dentes da boca arrancados, marcas de espancamento e um cano atravessado no joelho.
Não devemos temer andar nas ruas ou manifestar afeto público, pois devemos lutar para termos direitos iguais aos dos heterossexuais.
Enquanto escrevia este texto, chega um relato do professor Augusto Menna Barreto: “Na quinta-feira,16, entre as 20h30 e 21.45h, meu namorado e eu sofremos homofobia no bar República do Barão, em Lorena, São Paulo, pelos próprios funcionários do local (garçonete e gerente). O que ocorreu foi o seguinte: Estávamos sentados, de mãos dadas e conversando, eventualmente trocando alguns selinhos. Ou seja, não fizemos absolutamente nada de indiscreto, era uma simples demonstração de afeto!”
E prosseguiu: “Passado um tempo, uma garçonete do local, que se dizia lésbica, veio a nós e pediu que maneirássemos devido à presença de uma família com crianças no local. O mais irônico era que a mais ou menos um metro da gente, na mesa ao lado, encontrava-se um casal hétero fazendo exatamente a mesma coisa que nós. Argumentamos que o casal hétero também deveria ser advertido, mas a garçonete se alterou, falou que não iria fazer isso e insistiu para que parássemos. Pedimos para falar com o gerente, que teve exatamente a mesma atitude que a garçonete. Falamos da Lei Anti-homofobia do Estado de São Paulo, e ele falou que seria processo contra processo”.
Ele disse que está pensado em algum tipo de ato contra o bar. De certa forma, ele não recuou, não ficou com medo. É o exemplo de reação que temos que ter em mente enquanto minoria, mas também indivíduo, cidadãos ou como sociedade civil organizada. Até quando? Até o momento que políticos e o Governo pararem de serem omissos em relação à homofobia.