Em 1988, em uma galeria na Rua Augusta, em São Paulo, surgia uma casa noturna que iria dar o pontapé inicial à década de 1990. Seu nome: Nation. Tudo o que as pessoas iriam viver lá durante seus quatro anos de vida: montação, ferveção, cultura de DJ, hedonismo, diversidade (gays, héteros e sexodiversos conviviam lado a lado em clima de paz), seria o estalo da cultura clubber que estava chegando ao país. Neste sábado, 23, a mesma galeria com porta de ferro recordará este momento fundamental da noite de São Paulo e, por consequência, do Brasil, ao festejar os 25 anos daquele que é considerado o primeiro clube do país.
Clube é a forma abrasileirada de “club”, nome que os ingleses davam às casas noturnas. Era como se você fosse sócio daquela boate de tanto a frequentar, por isto o termo “clubber”. E toda a cena que viria depois do Nation batia cartão lá.
O lugar nasceu do termo “one nation under a groove” (uma nação sob uma batida) e fazia todo sentido, pois mesmo que a cultura de DJ era insípida, as pessoas iam para escutar Mauro Borges e Renato Lopes tocarem. A música tinha caráter primordial.
Era uma competição amigável, quem gostava mais de pop e de retrô (algo ainda novo na noite que depois ganharia o nome de flashback) ia de Mauro, quem queria mais novidades e algo mais experimental preferia o Renato. Tanto Mauro como Renato tinham seus fãs e a diferença entre os dois era essencial para a concepção do clube.
Na porta tinha a Regina Rambaldi, que alguns a chamavam de travesseiro (o nonsense já estava presente na cena), a Ida Feldman e a Bebete Indarte, todas montadérrimas. Na chapelaria tinha o Alexandre Vulnávia, se você queria saber o que estava acontecendo no clube, quem estava ficando com quem, algum babado forte, era só se acomodar ali do lado.
Mas a grande estrela da casa era Eloy W. Ele era uma espécie de host quando ainda não havia este termo. Inteligente, bem-humorado, ele era a presença essencial da casa, sem ele o Nation parecia não ter brilho. Quem o conheceu sabe o que estou dizendo. “A imagem mais forte que todo mundo tem do Nation é a porta com Eloy W. à frente”, escreveu Erika Palomino em seu livro “Babado Forte”, sobre a cena noturna e moda no eixo Rio-São Paulo dos anos 1990.
Foi lá, no Nation, que surgiu o grupo “Que Fim Levou Robin?” De uma brincadeira de fazer apresentações dentro do clube, Mauro Borges, Bebete Indarte, Eloy W. e Renato Lopes acabaram conhecendo o produtor Dudu Marote e, no fim, um álbum foi lançado.
Com apresentações no programa da Xuxa, a cena clubber e o nome da Nation ficaram pop. Se isto estava no projeto de Mauro que sempre teve esta pegada mais popular, já para Renato era algo muito distante de sua ideologia mais underground e intelectualizada. Ele então preferiu sair do grupo.
Com a saída de Renato, o equilíbrio entre o pop e o alternativo que sustentava toda a estrutura em volta do Nation estava quebrado, era o começo de seu fim. Mas simbolicamente, o clube termina com a morte de Eloy, em 1992, ano que coincidentemente o Nation foi fechado, mas que acabou entrando para a história.