Homem com mulher pode ser uma das formas ricas que o sexo pode nos proporcionar, mas não a única como muitos latem por aí. Também tem homem com homem e mulher com mulher, mas também terminar as denominações por aí é empobrecer a riqueza plural do sexo, seus desejos e sua ação libertária. Foi pensando nisto que surgiu o projeto “Flexões”, de André Medeiros Martins.
Ele tem formação em teatro e a fotografia, um dos veículos centrais de seu trabalho – mas não o único – para registrar o gozar da liberdade plural das sexualidades não é sua especialidade. Em conversa com o Blogay, André disse que não se considera fotógrafo, apenas a foto é um dos veículos que o ajudam a tentar decifrar as múltiplas facetas do desejo sexual.
Foi pela experiência teatral que conseguiu seus primeiros modelos – amigos atores – e foi pela teatralidade que tentou iniciar sua investigação das sexualidades e desejos. As fotos acabaram, junto com textos, compondo o livro “Flexões: Um Estudo Sobre a Sexualidade Plural”, lançado este ano. A publicação tem este ar performático, com máscaras e objetos compondo o quadro. Ele revela como encaramos também o sexo não como algo nosso, mas algo externo a nós, um outro, um estranho.
O livro traz ainda em sua diagramação um caos próprio da sexualidade, mas tenta dar um norte ao leitor sendo ordenado em três tópicos: tempo (com textos de “notáveis”), modo (com a transcrição dos debates promovidos em diversos locais como centros de cultura e de psicanálise) e sujeito (com pessoas anônimas escrevendo sobre as fotos que foram expostas em diversos ponto da cidade de São Paulo). Esta ordenação, que justamente acaba no sujeito, mais do que guiar o livro, deu as setas dos próximos passos que André deveria seguir para aprofundar sua pesquisa sobre o plural na sexualidade.
Seu trabalho depois do livro se tornou mais íntimo, menos alegórico. E para criar esta intimidade, ele mesmo começou de uma forma ou outra a participar e se colocar nas fotos, revelando o quanto de sexual também existe no ato de retratar o outro, de tentar penetrar na alma do retratado. Não era mais uma alegoria (ou a alegoria de um desejo de ser fotografado de certa forma com tais objetos), agora estava se descortinando o indivíduo, o sujeito em sua essência (sexual?).
Ao colocar-se na foto, além de revelar o lado sexual do trabalho fotográfico e também a intimidade do sujeito, André também retira a distância entre o fotografado e o fotografo, torna-se um só, como são as melhores relações sexuais.
Um outro passo importante foi quando, ao expor as fotos do livro, André resolveu não fazer apenas uma exposição fotográfica e resolveu trazer objetos de sua casa para a mostra. O teatro e a performance estão de volta, mas em outra chave, agora não só mais íntima, como também pessoal. Não é a teatralidade que está em jogo, mas o ator (André) que usa a teatralidade para entender certas questões gerais e também suas, pessoais.
Ao dormir de conchinha em uma tarde na exposição com um amigo, ele mais do que evidenciar intimidade, está trazendo um elemento importante para o seu trabalho (não que não estivesse presente) agora de forma explícita: a afetividade.
Hoje, sexo, afetividade e intimidade aparecem como coisas totalmente distintas e desassociadas, quando estão muito mais próximas do que pensamos. Apesar dos três (sexo, afetividade, intimidade), na cultura contemporânea, serem registrados como objetivos fora de nós que precisam ser alcançados por todos, eles sempre estiveram dentro de nós.
Entra agora André, nesta fase do projeto, em terreno muito mais perigoso e inquietante. A pluralidade do sexo é uma questão individual (das liberdades individuais), íntima e afetiva (em uma dimensão ampla do termo). Talvez esteja aí a razão do porquê, depois de três anos, ele teve suas páginas no Facebook apagadas pelos administradores da rede. Questão de pele em mundo virtual!