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A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo

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Blogay é editado pelo jornalista e roteirista Vitor Angelo

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O que você gostaria de perguntar para elas e não sabia como? (Parte 2)

Por Vitor Angelo

Depois de conversar com Milly Lacombe e Laura Bacellar, Blogay ainda fez algumas perguntas para outras lésbicas sobre o universo que cercam a lesbianidade, clichês e preconceitos

Suzy Capó, 52, jornalista, produtora cultural, curadora de festivais de cinema

Blogay – Você acha que a imagem lésbica ligada à MPB e sinuca é um clichê ou um símbolo. Ele pode representar as lésbicas ou é limitador?

Quero acreditar que a imagem lésbica ligada à MPB é hoje mais um símbolo, não um clichê. E depende de quem vai usar a imagem. Pode ser uma forma bem-humorada de representar as lésbicas ou hiper-limitado já que obviamente esse segmento da sociedade é tão diverso quanto qualquer outro. É como a imagem dos homens gays de couro e bigode. É limitador? É, mas pode ser engraçado. Quando penso nessa imagem (da lésbica ouvindo MPB e jogando sinuca), penso num cartoon.

Como está hoje a cinematografia com temática lésbica?  O que indica para assistir?

A cinematografia lésbica vai bem, obrigada. Não há tantos filmes de qualidade por aí, mas tem coisas excepcionais como “A Vida de Adèle”, de Abdellatif Kechiche, que ganhou a Palma de Ouro este ano no Festival de Cannes. Já aproveitando o espaço, a Mostra Gay do Festival do Rio este ano vai apresentar 3 ótimos filmes com temática lésbica:

– “Dual”, de Nejc Gazvoda, que é uma espécie de Antes do Anoitecer lésbico, situado na Europa Oriental;

-“Concussion”, de Stacie Passon, que derruba aqueles clichês sexuais relacionados às lésbicas, além de ser superdivertido (derrubando também aquela equivocadíssima ideia de que lésbicas não tem humor);

– “She Said Boom: the Story of Fifth Column”, de Kevin Hegge, que conta a história de uma banda post-punk canadense, formada só por mulheres. Aliás, a imagem da lésbica roqueira é símbolo ou clichê? Hahaha

São todos filmes muito bons. Mas, veja você, são poucos num programa com 12 filmes, né? E, claro, para assistir já, tem “Flores Raras”, do Bruno Barreto.

Algumas lésbicas se vestem como homens, desde antes mesmo da escritora inglesa Radclyffe Hall no começo do século 20. Existe uma confusão entre lesbianidade e transgênero dentro do próprio mundo lésbico? Ou não?

Acho que essa questão de se vestir de homem não é exatamente uma confusão. Quer dizer, pode até ser uma confusão, mas frequentemente a confusão está nos olhos de quem vê, não de quem está sendo visto. Muitas mulheres se vestiram como homens para transitar num espaço em que elas não poderiam transitar de outro modo. Na Inglaterra hoje, uma mulher que se veste de homem está fazendo isso por motivos bem diferentes daqueles que levaram Radclyffe Hall a se vestir com trajes masculinos. Pode ser simplesmente um jogo, “role playing”. Ou pode ser que ela seja ele, e é simplesmente isso que ele está querendo afirmar.

Ivone Pita, 43, professora e militante LGBT

Blogay – Qual o ponto nevrálgico que une as lésbicas às feministas?

Nossa mentalidade ainda muito patriarcal oprime todas as pessoas, mas com muito mais violência as mulheres. É no enfrentamento a esta violência estrutural que vários grupos de mulheres se unem. Nos movimentos feministas é que mulheres heterossexuais, homossexuais, bissexuais, cis ou trans, estabelecem seus laços de força contra o sexismo, o machismo e a misoginia. No entanto, desde sempre e ainda hoje, muitas pessoas ainda associam pessoas lésbicas ao que se convencionou chamar de masculinidade e, assim, por extensão, associam lésbicas com o machismo, o que, naturalmente, levaria feministas a rejeitarem lésbicas. A boa notícia é que isso hoje em dia parece ser muito raro.

Algumas lésbicas se vestem como homens e em muitas vezes mimetizam/imitam o homem machista, desde antes mesmo da escritora inglesa Radclyffe Hall. Ao se identificarem com o machão, diferente dos gays que se identificam com a mulher – o sexo oprimido, estaria aí – além de uma representação dualista heteronormativa – um identificação com o machismo? Seria isto? Ou não?

O sexismo continua vasculhando vestimentas e comportamentos para fazer correlações entre lésbicas e o que seria uma “figura de macho”. Como há mulheres heterossexuais e homossexuais feministas, também há mulheres heterossexuais e homossexuais machistas, contudo, se a mulher for lésbica, o preconceito associa seu machismo a sua homossexualidade. Esta é uma das violências sofridas por mulheres lésbicas, bissexuais e heterossexuais, sejam cis ou trans: a normatividade sexista e binarista. Apenas uma delas. As violências são muitas e se manifestam sob variadas formas.

Qual é a maior violência que as lésbicas sofrem? E qual o direito mais urgente que ainda falta ser conquistado por elas?

Uma forma de violência é a negação de nossos direitos: de casar, de adotar, de sermos protegidas por lei da violência homofóbica física e verbal. E não há como lista-los hierarquicamente, pois somos tantas com anseios e necessidades tão diferentes e, afinal, são direitos de qualquer outro cidadão que nos estão sendo usurpados, portanto, queremos direitos que são nossos. Queremos todos!

A poeta grega Safo (Reprodução)

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