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Heterossexuais são responsáveis por questionar homofobia e avançar a questão gay nos esportes

Por Vitor Angelo

No sábado, 18, as russas Kseniya Ryzhova e Tatyana Firova, ao ganharem a medalha de ouro no revezamento 4×400 metros deram um beijo no podium. As duas depois afirmaram que são heterossexuais e que fizeram o ato como a celebração da felicidade de uma conquista. No domingo, 19, Emerson Sheik postou uma foto dando um selinho em seu amigo Isaac Azar, o dono do restaurante Paris 6, em São Paulo. O craque do Corinthians estava acompanhado da namorada na hora da foto e Azar é casado e sua esposa espera o terceiro  filho.

O primeiro caso, o selinho das russas – sustentado pelo fetiche heterossexual masculino de ver duas mulheres se beijando – não criou em si muito burburinho. O que aconteceu foi a leitura da imprensa mundial que logo nomeou o ato como um protesto contra as leis anti-gays da Rússia. Elas negaram – não se sabe se por pressão dos dirigentes russos ou porque o Ocidente teve mesmo uma visão exagerada do ato. Mas o que importa é a imagem e ali parecia ter um contexto político (mesmo que a intenção não fosse esta como as atletas mesmo fizeram questão de alegar em uma coletiva) do que sexual. Nela, existe a expressão da afetividade de duas pessoas vitoriosas independente de sua orientação sexual.

O mesmo podemos falar do beijo de Sheik, ali são amigos, é troça. O próprio atacante escreveu na legenda da foto que dá uma selinho em Azar: “Tem que ser muito valente para celebrar a amizade sem medo do que os preconceituosos vão dizer. Tem que ser muito livre para comemorar uma vitória assim, de cara limpa, com um amigo que te apoia sempre. Hoje é um dia especial. Vencemos, estamos mais perto dos líderes. É dia de comemorar no melhor restaurante de São Paulo, o Paris 6, com o melhor amigo do mundo, Izac. Ah, já ia me esquecer, para você que pensou em fazer piadinha boba com a foto, da uma pesquisada no meu Instagram todo antes, só para não ter dúvida”.

Emerson Sheik dá selinho em Isaac Azar (Reprodução/Instagram)

A idiotia dos protestos de meia-dúzia de torcedores e todo o preconceito envolvido como uma cena que no fundo é um ato de amizade, tanto Xico Sá, colunista da Folha como Leonardo Sakamoto já dissertaram. Uma sociedade que confunde afeto com um artigo do requisito sexual é uma sociedade obtusa, e com certeza doente.

O que é interessante dos dois atos, ainda mais do de Sheik em um país que ainda vive um moralismo digno da década de 1950 (meninas ainda são classificadas para casar e para sair, homens têm medo de usar cachecol para não parecer homossexual, jovem é expulsa da faculdade por usar minissaia), é que em uma das fronteiras mais fechadas para a livre manifestação de sua orientação sexual: os esportes, heterossexuais têm ajudado a alargar conceitos e destruir mitos, além de escancarar a homofobia. São novamente mais uma prova que não existe uma guerra entre gays e héteros como os religiosos fundamentalistas e os ultraconservadores tanto adoram alardear.

Tanto Kseniya Ryzhova e Tatyana Firova (mesmo que involuntariamente) assim como Sheik fizeram um ato político, em nome da afetividade entre as pessoas, independente  de sexo e de orientação sexual. E nós gays, só temos a agradecer. Foi um golaço contra os intolerantes!

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