A cura gay – praticada por algumas igrejas evangélicas – esteve presente aos debates e protestos de junho quando o projeto do deputado federal e religioso João Campos (PSDB-GO) que pretendia que psicólogos tratassem a homossexualidade como doença foi arquivado pela Câmara Federal por pressão das manifestações. O tema volta a ser debatido agora no programa “A Liga”, da TV Bandeirantes, que irá ao ar nesta terça-feira, 23, às 22h30.
Em uma espécie de reality, esta edição convidou a drag Tchaka e o pastor Robson que se considera um ex-homossexual para conviveram juntos durante alguns dias.
“Eu primeiro passei uns dias na casa dele e depois ele veio conviver comigo”, disse Tchaka ao telefone para o Blogay. “Fui ao culto, conheci a família que foram supersimpáticos, mas logo no começo ele já tentou vir com algumas advertências do evangelho. Minha mãe é evangélica e eu logo deixei claro que ele não iria me doutrinar”.
Ela disse que tudo foi tranquilo na sua convivência com ele até o último dia que alguns religiosos foram conversar com a drag em um centro de reabilitação de ex-gays. “Vieram meio que apontar o dedo na minha cara, uma missionária foi muito agressiva comigo e eu rebati: ‘Eu não vejo Deus em você””.
Tchaka disse que a mulher de Robson sabe de seu passado e o ama e os filhos também, são três, um menino e duas meninas. Ela conta que Robson acredita que é ex-gay mas, para Tchaka, ele ainda é homossexual. “Nem é porque ele é ‘pintosa’, tipo quando as filhas aparecem e não estão bem vestidas, ele grita: ‘volta pro closet que nos vamos combinar direitinho a bolsa com o sapato’ e sim porque é latente o seu desejo, sexualmente ele é homossexual, mesmo ele ficando com sua mulher”.
“Depois, ele veio aqui em casa. Moramos eu, meu marido e minha mãe de 80 anos que é evangélica, e acho que, mesmo inconscientemente, ele entendeu que aqui era uma família também”. Segundo a drag, ele foi em uma festa que no começo resistiu em entrar, mas acabou entrando, fizeram um jantar e ele acabou fazendo preces juntos com a mãe de Tchaka.
Em momentos de animosidade entre LGBTs e evangélicos (que são colocados todos na mesma barca junto com fundamentalistas), o programa captou que nem tudo é radicalismo. Tchaka assume que chorou na igreja ao ver os depoimentos de moradores de rua e viciados que eles ajudam. “Esta questão social da igreja é muito importante já que o Estado é ausente em muitas áreas carentes”. E ela acredita também que, de certa forma, o pastor Robson entendeu “um pouquinho” que nossa sociedade é diversa e “que podemos ser felizes sendo sexodiversos, sendo o que somos em essência, sem este lance de cura”.