Em entrevista para o Uol Música, nesta quarta-feira, 29, segundo o texto, a cantora Ana Carolina se posiciona da seguinte maneira sobre a questão homossexual: “À esteira do casamento gay de Daniela Mercury, ela elogia a colega, mas se mantém contrária ao mesmo pensamento que teve na época [de se declarar bissexual para uma revista]: levantar bandeira ‘é um preconceito ao contrário’. […] ‘Não gosto disso. Fica essa coisa de nós gays contra os héteros. Isso é preconceito ao contrário. Acho legal a Daniela estar casada e a postura que ela teve, influencia aquela pessoa babaca, ignorante, que gosta da Daniela. Ele pensa: Talvez eu esteja errado. Fico um pouco assim com as pessoas que levantam bandeirinha, mas fica puta se o filho for gay. Não precisa levantar bandeira. É só agir de maneira honesta e respeitosa”, explica.
Existe uma confusão tão gigante de pensamentos torpes que nem sei por onde começar. Ela diz que levantar bandeira é preconceito ao contrário, mas gostaria de saber se quando Chiquinha Gonzaga levantou a bandeira da mulher como compositora no começo do século 20, estava ocorrendo um preconceito dela contra os compositores e os homens? Aliás, se a grande compositora de marchinhas não levantasse esta bandeira talvez não tivéssemos o desprazer de ler esta entrevista de Ana Carolina, pois a cantora como mulher não teria nem status para estar nas páginas de jornais. Viva Chiquinha Gonzaga!
Gostaria de saber se Ana Carolina acredita que quando Elizabeth Eckford, a negra que desafiou o racismo norteamericano e, em 1957, foi a uma escola mista e os brancos a xingaram incessantemente, ela estaria cometendo algum tipo de preconceito com os brancos? Viva Elizabeth Eckford!
E os gays e lésbicas que tomaram as ruas do Village em Nova York, no final dos anos 1960, pedindo tratamento justo e que a polícia não mais os humilhassem por sua orientação sexual? Se eles não tivessem levantado a bandeira, Ana Carolina, a senhora nem poderia imaginar se declarar bissexual na revista “Veja” nos anos 90. Viva Stonewall!
E que pensamento pobre é este de: “Fica essa coisa de nós gays contra os héteros”? Nem precisa ir muito longe. Hoje mesmo, os Tribalistas – formados por Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown -, que, até onde a gente sabe, são heterossexuais, fizeram um hino para o casamento igualitário e para a Parada Gay de São Paulo. Então onde existe esta guerra entre gays versus héteros quando se levanta uma bandeira? Só na cabeça dos mal intencionados, dos perversos e dos mal resolvidos, pois héteros muito bem resolvidos não tem problema nenhum com gays e, muito pelo contrário, levantam sim a bandeira para que os LGBTs tenham um vida mais igualitária a deles.
Levantar bandeira seja contra, seja a favor, é tomar posições e isto é coisa para os fortes, a covardia dos egodistônicos, aqueles que estão em desintonia com seus desejos e vivências sexuais públicas e privadas, é a maior tristeza vivencial de alguém que não é heterossexual, pois traça em vis desculpas a incapacidade de assumir para si e para o mundo o que realmente ama. E age de maneira desonesta e desrespeitosa com os outros e principalmente para si.
E antes que os fã-náticos de todo o tipo venham aqui falar em liberdade de expressão, eu digo que ela é não é uma rua de mão única. Do mesmo jeito que Ana Carolina tem o direito de se expressar, eu também tenho o meu de questioná-la pela minha expressão. E é isso aí!