O vídeo publicado no Youtube, na segunda-feira, 6, pelo grupo “Porta dos Fundos” teve até este momento quase 1,8 milhão de acessos e mais de 17 mil comentários. O número de “views” esta dentro da média que o grupo faz por cada vídeo lançado, mas o número de comentários é muito superior. A razão: tem um beijo entre dois homens. E as postagens se tornaram um palco de embate entre os defensores e os detratores da cena.
Dois comentaristas de futebol discutem a relação enquanto narra-se um jogo. Indiretas são dadas e o final a explosão sexual vem à tona.
[youtube ZtV7vNqU8GU nolink]
O beijo incomodou alguns moralistas e criou-se um debate. Em entrevista para o jornal “O Globo”, um dos criadores do grupo e protagonista disse: “O final é um beijo porque é mais engraçado assim. Se um abraço fosse mais divertido, teríamos optado pelo abraço. A intenção não era fazer barulho, mas fazer uma boa piada. Mas fiquei feliz de ver que o vídeo gerou uma discussão em torno do tema. Eu, particularmente, defendendo a causa gay”.
Seu parceiro no vídeo e no grupo, Gregório Duvivier, disse claramente: “Nós todos [do Porta dos Fundos] abraçamos a causa gay, então foi bacana ver o vídeo sendo compartilhado nas redes por quem apoia o movimento”.
Mas além da postura pró direitos LGTB, Duvivier foi mais fundo em relação aos que se incomodaram com o vídeo: “A gente não liga para o público conservador. É importante empurrar as barreiras para quebrar os preconceitos. Se não fizermos isso, vamos cair no erro da TV aberta, que se preocupa demais com o que o tal ‘grande público’ quer ver. Não queremos ser escravos do público”. Com certeza, um ato de coragem.
Desde que surgiu, Porta dos Fundos tem se mostrado um diferencial aos chamados humoristas playboys – nome criado pelas jornalistas Nina Lemos e Cynara Menezes – para uma turma de jovens cômicos que fazem stand up e adoram apavorar as minorias com piadas cruéis e se borram de medo de fazer humor com a mesma mordacidade com os poderosos. O grupo Porta dos Fundos é mais sagaz, mais crítico e com posições políticas claras e não por isto menos humorados.
Além do mais, eles entendem a missão do fazer cultural e artístico: quebrar barreiras, mostrar o que não parece visível, afrontar o establishment. Enfim, o Porta dos Fundos entende a raiz do humor. Eles têm aquilo que falta em quase todos humoristas playboys: coragem.
No belíssimo livro de Flávio Di Giorgi, “Sentimentos Humanos: Origens e Sentidos”, o professor explica o que coragem significa. “Indica disposição para fazer aquilo que se julga devido, em dada situação, por impulso do coração. Presta-se à realização de grandes ideais, benefícios para as pessoas de determinados grupos de amigos ou afeiçoados, tendendo a se estender, no limite extremo, a toda a humanidade”. O Porta dos Fundos são nossos amigos corajosos!