Nesta semana fomos surpreendidos pela saída do armário do jogador da NBA Jason Collins. Ele assumiu a homossexualidade em artigo publicado pela revista “Sports Illustrated”. Como o primeiro jogador ainda na ativa e dentro de uma das mais importantes ligas de esporte dos Estados Unidos é claro que sua declaração tem um peso social muito grande.
Ele abre caminhos, assim como Daniela Mercury fez aqui no Brasil ao assumir namorar a jornalista Malu Verçosa, para desmistificar e tirar de um gueto distante os homossexuais. É a saída de armário de muitos que faz com que cada vez mais se entenda a homossexualidade com naturalidade. O fato de ter algum amigo ou mesmo parente, isto é, algum gay ou alguma lésbica por perto, fez com que as famílias americanas encarassem o casamento igualitário com menos preconceito e a população dos Estados Unidos em sua maioria apoiassem, segundo pesquisas , o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo.
Isto mostra que a questão sair do armário traz uma questão social importante, mas em seu núcleo a atitude é meramente individual. Daniela Mercury ao declarar seu amor disse: “Sou apaixonada por Malu, pelo Brasil, pelas liberdades individuais. Eu acho que conquistas a gente não pode esquecer”.
Nesta frase, ela diz o ponto central de assumir sua sexualidade, as tais liberdades individuais. É uma questão do indivíduo, é ele quem deve decidir o momento certo, de abrir aos outros algo que ele é de seu íntimo, que é ligado ao seu desejo e só ao desejo dele e de mais ninguém.
Não existe nada mais desrespeitoso do que forçar alguém a sair do armário. Durante um passado não tão distante, uma parte da militância teve um péssimo hábito, bem mal educado de retirar a força famosos do armário. Nada mais rude.
Com o tempo, percebeu-se a agressão e políticas deste tipo escassearam. E é também com o tempo que assumir ser gay vai cada vez mais estar no seu lugar correto, o das questões individuais.
A 17ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo traz a questão para ser o tema de seu evento. Com o nome “Para o Armário, Nunca Mais!”, a recolocação da questão no sentido social parece ser algo necessário, urgente. No campo individual, sabemos que quando se faz o chamado “outing”, não tem mais volta, não há como retornar ao armário. No campo social – onde sair do armário cada vez vai ter menos impacto -, pode ser uma metáfora para políticas conservadoras contra os LGBTs.
Mas será que em tempo de ataques diretos de intolerantes e conservadores, seria tempo de metáforas? Com projetos de “cura gay” na Câmara, uma PLC122/06 – a lei anti-homofobia – tendo pouca visibilidade e tramitando pelo Legislativo, assassinatos homofóbicos aumentando em escala desproporcional e a questão do casamento igualitário em debate pelo país e pelo mundo, a Parada, ela mesmo acabou metaforicamente entrando no armário e acanhando-se de discutir temas verdadeiramente relevantes hoje para os LGBTs de forma mais direta.
O outro lado
O Blogay procurou a APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo) e perguntou por que a escolha do tema.
“Com o tema do 17º Mês do Orgulho LGBT de São Paulo, a APOGLBT pretende dar uma resposta ao recrudescimento do conservadorismo, observado no atual cenário político do Brasil. Após o reconhecimento da visibilidade e a algumas conquistas, a população LGBT passou a ser abertamente perseguida por setores fundamentalistas e intolerantes que visam tolher a igualdade plena, o respeito às diversidades e a laicidade do Estado. Ao afirmar “Para o armário, nunca mais!”, a Parada convoca os LGBTs para o enfrentamento, diz que a luta pela isonomia de direitos e nega as tentativas retrógradas desses setores em levar @s LGBT de volta para o gueto, a marginalidade e a clandestinidade. A sociedade brasileira já não abre mão da concretização da cidadania, por isso, precisa se manter unida e consciente para que novos avanços sejam garantidos, sem que haja retrocessos”.