O Congresso Nacional é conhecida como a casa do povo, assim deveria ser, mas no fundo não passa do mais fiel retrato do nosso país, um lugar que segrega e que, no fundo, tem medo do própria população que deveria representar. Claro que a lógica reacionária chama os protestos de baderna, é a antiga cantilena de demonizar o inimigo, de tirar a voz daqueles que ousam se pronunciar, e sim, no grito, pois muita coisa está engasgada para o brasileiro. É preciso gritar, pois eles – nossos congressistas, em sua maioria – estão surdos na arrogância da soberba do poder. Ontem, os índios conseguiram “invadir” a barbárie que estava acontecendo no silêncio do plenário quando os políticos queriam tirar do Executivo o poder de demarcar as terras indígenas e assim facilitar a bancada ruralista – mancomunada com os fundamentalistas religiosos – de diminuir as áreas das terras indígenas. Foram chamados de baderneiros. Mas, nesta quarta-feira, 17, eles foram barrados, mas não só eles, o movimento negro e LGBT também ficou de fora a princípio da tal “casa do povo”.
Para o Blogay, o militante Todd Tomorrow, um dos responsáveis pelas passeatas em São Paulo contra Marco Feliciano e o fundamentalismo religioso relatou: “Os índios que estavam no Congresso foram expulsos. Chegamos de ônibus com o pessoal da Educafro. Já na entrada do anexo 3, também fomos barrados! A policia legislativa disse que estava muita bagunça e que não deixaria ninguém entrar. Olha só, a casa do povo, tomada pelo poder econômico e pelos obscurantistas. Índios, negros, LGBTs, tudo jogado na calçada”.
E continua: “Depois de muito debate com a polícia, conseguimos com que algumas pessoas dos movimentos sociais entrassem. Então começamos a pressionar de dentro e de fora: ‘Deixa o povo entrar! Deixa o povo entrar!” Foi só então que alguns parlamentares foram até a porta e fizeram alguma coisa, como pressionar o Henrique Alves (PMDB- RN) que ontem saiu correndo dos índios depois de tentar vender suas terras para bancada ruralista. La dentro, encontramos um cenário desolador. Os manifestantes pró-Feliciano já estavam lá, acomodados e tomando suquinho. Tudo pronto pra mostrar para imprensa que o pastor-deputado tinha amplo apoio. Os poucos manifestantes LGBTs que tinham conseguido entrar até então, estavam exauridos. Quando viram o movimento negro chegando, se encheram de esperança e encontraram forças pro embate dessa guerra cultural instalada no Brasil. Foi lindo! E o Feliciano, ficou chocado! Pois viu que o movimento negro agora tá na fita”.
O resultado deste embate foi que “no final, a Frente Parlamentar Pelos Direitos Humanos quis falar com a gente e conseguimos cavar uma audiência pública para daqui algumas semanas”, como conta Todd.
Agora, fica mais claro a rua de mão única que se desenha no Congresso. Grupos religiosos ligados aos fundamentalistas foram à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados e pediram pelo saída dos deputados José Genoino (PT-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP). Oras, a sessão continuou aberta, e mesmo com o falatório e placas dos fundamentlsitas religiosos, eles não apanharam da polícia legislativa como os diversos relatos contados por militantes LGBTs inclusive em vídeo do Uol e puderam exercer seu protesto. Isto se chama democracia. Da mesma forma que estes políticos escutarem os protestos, Feliciano também deveria ser democrático e escutar o que as pessoas têm a dizer a ele, e não se prender em uma masmorra de marfim. Ou o fato de ser fundamentalista te torna menos baderneiro que os outros? Isto não seria privilégio ou ditadura do fundamentalismo religioso?