Ao assumir seu amor pela jornalista Malu Verçosa em uma comovente imagem no Instagram, nesta quarta-feira, 3, e depois soltar uma nota oficial, a cantora Daniela Mercury parece ter mirado o seu recado para certos personagens da novíssima cena da boa e velha intolerância brasileira. “Eu comuniquei meu casamento com Malu para tratar com a mesma naturalidade que tratei outras relações. É uma postura afirmativa da minha liberdade e uma forma de mostrar minha visão de mundo. Numa época em que temos um Feliciano desrespeitando os direitos humanos, grito o meu amor aos sete ventos. Quem sabe haja ainda alguma lucidez no Congresso brasileiro!”, escreveu.
Feliciano e seus asseclas é um nome óbvio que esta mensagem é endereçada, mas outra personalidade é Joelma que, segundo a revista Época de domingo, 31, disse que tem “muitos fãs gays, mas a Bíblia diz que o casamento gay não é correto e sou contra”.
“Malu agora é minha esposa”, responde Mercury ao fundamentalismo da cantora do Calypso contrária ao namoro de pessoas do mesmo sexo. Isto é, o amor contra a intolerância.
Joelma rasteja na ignorância de leituras obtusas de um livro considerado sagrado para alguns religiosos, mas não para todos. Para outros religiosos o livro sagrado pode ser o Alcorão, o Torá, o Bagavadguitá ou o Mahabharata. Isto é, não existe uma verdade única, como não existe uma religião apenas e muitas professam coisas às vezes contraditórias entre elas. Então Joelma, se você é contra o casamento gay seja contra ele para você e mais ninguém, isto é, se você for lésbica, não se case, e só. Não imponha a sua verdade como se ela fosse única, isto chama-se autoritarismo.
Então na verdade, a resposta de Mercury para Joelma foi a resposta do amor contra o autoritarismo.
Outra pérola de Joelma foi sua afirmação que se ela tivesse um filho “lutaria até a morte para fazer sua conversão. Já vi muitos se regenerarem. Conheço muitas mães que sofrem por terem filhos gays. É como um drogado tentando se recuperar”.
É um direito de Joelma fazer o que bem entender com o seu filho e educa-lo como bem entender, não podemos e nem devemos palpitar. Mas ao afirmar que mães sofrem por terem filhos gays, ela esquece de entender que a razão deste sofrimento são exatamente afirmações como as dela, que fazem muitas mães ficarem preocupadas com o preconceito que seus filhos irão enfrentar.
Majú Giorgi, membro da associação Mães pela Igualdade – que ajuda mães e pais a aceitarem seus filhos LGBTs como eles são -, dá a resposta certeira para a cantora paraense.
“Diz um ditado popular que quem fala o que quer, ouve o que não quer. E eu diria para Joelma usar a boa educação e o respeito como freio para suas falácias. A liberdade de expressão é ótima quando usada no limite do bom senso, com embasamento maior que a sua opinião pessoal ou os dogmas da sua religião. Homossexuais não podem ser resumidos como mera sexualidade que foge ao padrão. São seres humanos inteiros e com sentimentos. O que você sentiria Joelma, se o mundo quisesse mudar a sua sexualidade? Se a religião de um terceiro que não é a sua, quisesse te privar do direito de ser? Se pessoas que não conhecem sua realidade se achassem no direito de cercear a sua liberdade? E se pessoas públicas fossem a mídia fazer eco e te condenar? Na verdade, você é digna de pena, não de raiva. É mais uma vítima do fundamentalismo irresponsável e desrespeitoso que tomou conta do país. Eu sou sim mãe de uma pessoa inteira que dentre as muitas características é gay. Uma pessoa linda, carinhosa, amiga, respeitosa, centrada, honesta, bom caráter, bom filho, bom irmão, que esta começando a vida e que tem todo direito de ser feliz. Eu NÃO quero mudar meu filho, tenho muito orgulho dele e conheço uma multidão de pais e mães que pensam como eu. Vergonha alheia eu tenho de preconceituosos irresponsáveis, que saem ditando suas regras impregnadas de egoísmo esquecendo a essência: AMOR AO PRÓXIMO”, diz Majú em depoimento para o Blogay.
Na verdade, Majú lembrou para Joelma o essencial. A cantora esqueceu do amor ao próximo no seu sentido mais profundo e base de todo o cristianismo que Joelma diz seguir. A resposta de Majú para Joelma foi a resposta do conhecimento contra a ignorância.
O cavalo está manco!