A assinatura da carta contra a discriminação de homossexuais pela rainha do Reino Unido, Elizabeth 2ª, é a nova Revolução Inglesa. Para comemorar o Dia da Commonwealth, união das ex-colônias britânicas, a nobre britânica rubrica uma carta, nesta segunda-feira, 11, que segundo os assessores do Palácio de Buckingham diz: “Faremos implacável oposição a todas as formas de discriminação, seja enraizada no sexo, raça, cor, credo, convicções políticas ou outros motivos”.
Ao assinar a carta, a rainha disse: “Nossos valores compartilhados de paz, democracia, desenvolvimento, justiça e direitos humanos significam que pomos especial ênfase em incluir todo o mundo em nossos objetivos, especialmente aqueles que são mais vulneráveis”.
O Commonwealth é composto por 54 países, entre eles, alguns que a homossexualidade é considerada ilegal. O passo é importante e histórico para os direitos humanos no mundo.
Mas o que de fundo o significado da carta faz urgir de maneira muito clara é que os direitos civis deixaram de ser propriedade das esquerdas ou, se preferirem, dos progressistas. Todos sabemos que a rainha é conservadora e não tem nada de libertária, mas endossa algumas bandeiras da causa LGBT com a tal carta.
Assim como o ator e diretor Clint Eastwood, que apoiou o candidato republicano Mitt Romney nas últimas eleições americanas, não é muito ligado aos ideais dos jacobinos. Porém, ele apoia frontalmente o casamento igualitário e fez declarações expressivas recentemente para que a união de pessoas do mesmo sexo na Califórnia seja aprovada.
Sim, o movimento LGBT surge e está muito ligado ao que podemos ainda chamar de esquerda (sem querer polemizar com os que acreditam que esta dicotomia com a direita não existe mais), mas hoje não podemos dizer que é algo orgânico a ela – por mais que a questão da igualdade seja central tanto para um como para outro movimento.
Mas do mesma maneira que a esquerda se autointitula defensora das igualdades, a tal direita pensante também diz ser dela a posse das liberdades individuais (muito presente no conceito do “self made man”). A luta pelos direitos LGBT passam tanto pelo prisma da igualdade como das liberdades individuais, por isto não é tão incoerente assim figuras conservadoras como a rainha Elizabeth 2ª ou Clint Eastwood apoiarem alguns aspectos das reinvindicações dos gays.
Mas, o que falar dos chamados grupos de gays republicanos nos Estados Unidos que mostraram sua cara contra Barack Obama nas últimas eleições? Ou do PT, um partido que se considera de esquerda, abandonar a Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara e deixá-lo para um aliado como o PSC (Partido Social Cristão)?
Isto mostra a complexidade dos gays e seus direitos tanto na questão política como na individual. Mas também demonstra a sagacidade deste estágio do capitalismo tardio que, de alguma forma, quer, com direitos e reconhecimentos, retirar o poder subversivo da sexualidade tanto no quesito da orientação sexual como na da identidade de gênero.
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PS: O “s” a mais no título não é erro e sim um trocadilho entre “queen” (rainha) e “queens” (uma das formas de falar homossexual em inglês).