Blogay

A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo

 -

Blogay é editado pelo jornalista e roteirista Vitor Angelo

Perfil completo

Publicidade

Visibilidade trans: Três relatos (parte 3)

Por Vitor Angelo

Quando levantada aqui no blog as questões sobre qual lugar os transgêneros teriam e devem ter na vida social montada em cima de um sistema binário, muitos responderam nos comentários que a questão era simples: se tem pênis, vai no banheiro/vestiário masculino e se tem vagina no feminino.

Ao afirmarem isto estão em total desrespeito sobre o que é ser transgênero, por ignorância ou má fé, não conseguem enxergar que a própria existência dos/das trans questiona o órgão sexual como definidor de seu gênero.

Grosso modo, o indivíduo trans se sente inadequado ou em desconformidade com o gênero que nasceu. Então nada mais obtuso e grosseiro do que falar quem tem tal órgão vai pra tal casinha e tudo certo. Estes com certeza não se interessam e querem se livrar rapidamente de um dilema que não conhecem pelo mais rasteiro senso comum.

Por isto o Blogay conversou com três trans femininas – que são as personagens que devem ser primeiramente escutadas. Elas contam o que acham de um terceiro banheiro e se já sofreram preconceito ao ir em um banheiro ou vestiário público

Samantha Aguiar (Reprodução/Facebook)

 Samantha Aguiar, transexual

Sim, sim, já sofri preconceito anos atrás num baile de Carnaval no extinto Palace [em São Paulo] depois de duas vezes que já tinha entrado no banheiro feminino, uma segurança pediu meu RG pra entrar no banheiro.

Mas não evito frequentar lugar nenhum com medo nenhum.

Não acho bacana criar banheiros pra trans… Um horror, as chacotas só aumentariam… Na Europa, em alguns clubes, sabiamente, os banheiros são UNISSEX. Uma trans feminina deve sim usar só o banheiro feminino. Eu só uso banheiro feminino, e essa historia do Palace foi a única na minha vida; e seria muito mais problema e alvoroço uma trans num banheiro masculino.

Viviany Beleboni (Reprodução/Facebook)

Viviany Beleboni, travesti

Nunca sofri preconceito [em banheiros e vestiários públicos], às vezes olhares mais perceptivos, algumas meninas olham e percebem , a maioria que percebe sorri e admira, muitas poucas olham com ar de deboche ou risos, pelo menos no meu caso.

Conheço muitas travestis que se sentem oprimidas em viver com a sociedade e se reprimem achando que não tem o direito de ir e vir, com medo de transfobia e humilhações seja em shoppings, bares ou baladas. Mas confesso, é muito frustrante você ir em algum lugar e as pessoas te olharem como algo de outro mundo ou rirem como se você não fosse para estar ali com elas. Isso já me aconteceu em baladas mas tiro de letra quando acontece.

Eu acho uma bobagem um banheiro para trans, uma travesti ou transexual, na minha opinião, não entraria nesse banheiro, porque ao entrar ou sair sofreria sim preconceito, eu até hoje como disse nunca vi nenhuma situação das mulheres se sentirem constrangidas, muito pelo contrário, a maioria elogia.

Lógico que eu uso o banheiro feminino, seria ridículo e completamente constrangedor para nós travestis, uma por que ao entrar seríamos motivos de chacotas, risos, deboches, e até vitima de transfobia, pois vivemos em um pais muito machista e hipócrita onde a maioria sai [sexualmente] com trans e ao falar sobre o assunto eles dizem completamente o contrário. E até mesmo se precisam, eles [os que saem com trans] xingam falando que é errado.

É muito mais discreto você entrar em um banheiro feminino, é muito mais confortável você entrar com suas amigas mulheres ou trans.

Bianca Soares (Reprodução/Facebook)

Bianca Soares, transexual

Sofri preconceito não como trans, mas como gay vestida de mulher há muito tempo. A recepcionista do banheiro ou seja a encarregada da limpeza falou para eu ir no banheiro masculino, lógico que não fui. Hoje em dia não (sofro preconceito em banheiros públicos) porque sou muito segura de mim e tenho as leis do Brasil a meu favor. ufa!

Sou contra o banheiro para trans. Acho puro preconceito, óbvio que tem que ser o feminino afinal sou uma mulher (Bianca conseguiu seu registro social, isto é trocar seu nome da certidão nos documentos para um nome feminino há oito meses) e vou no banheiro não para ficar caçando ou vendo mulher pelada, idem o transexual masculino . Óbvio que uma trans feminina, educada, que tem índole prefira o feminino porque o objetivo do banheiro é o mesmo pra um hétero educado e íntegro.

Quando Bianca diz que tem as leis a seu favor, ela esta se referindo às mesmas que Laerte na entrevista anterior citou, a lei estadual 10948 (se você não morar no estado de São Paulo, informe-se se não existe nenhuma lei análoga em seu estado ou município). Clique aqui para saber mais.

Leia a parte 1 sobre visibilidade trans, clicando aqui.

Leia a parte 2 sobre visibilidade trans, clicando aqui.

Blogs da Folha

Mais acessadas

Nada encontrado

Categorias

Publicidade
Publicidade
Publicidade