Augusta em transe! O agora mítico Bar do Netão, em São Paulo, fez sua última festa na madrugada de domingo, 10. A festa superlotou e a rua foi tomada por centenas de pessoas que ocuparam não só as calçadas como a própria pista de veículos. (Saiba o que é o Bar do Netão clicando aqui)
Nada calculado, nada autorizado, mas o bar que instituiu “o direito de ir e vir” – como diz uma grande amiga – na noite paulistana sem precisar pagar comanda ou qualquer coisa que o valha para dançar uma excelente música, só poderia ser livre o suficiente para deixar a festa correr solta e foi assim que aconteceu.
Com um line up extenso de DJs, a farra foi até às 9h deste domingo. E com as caixas de som viradas para a rua, novamente Netão mostrou a generosidade que parece artigo tão raro na cidade. De moradores de rua a patricinhas, todos dançaram e festejaram o anti-baile da Ilha Fiscal. Mesmo muitas pessoas dentro dos carros, que tentavam passar pela rua invadida pelos pedestres, entravam na comemoração. Um momento inusitado foi quando um rapaz fantasiado de Psy saiu do carro e dançou Gangnam Style para delírio da multidão.
Mas a farra não disfarçava as críticas que alguns faziam pelo fato de novamente a especulação imobiliária que a região vem sofrendo ser a culpada pelo fechamento do bar. Alguns carregavam placas de “aluga-se” fazendo um fina ironia às diversas desapropriações que a região tem sofrido para que prédios com grife “deluxe” sejam construídos na área.
Meninos beijavam outros meninos na boca no meio da rua ao lado de uma mulata que rebolava iluminada pelos faróis de um ônibus, deixando todos os marmanjos que estavam dentro e fora do coletivo de boca aberta. Isto se chama diversidade e só choca os que ainda pensam de forma racista e eugenista.
Pois foi no túmulo de samba, na augusta noite de domingo, que nunca se escutou com tanta clareza Noel Rosa, Clementina de Jesus e Wilson Simonal assim como Dead Kennedys, Pixies, Goran Bregović (o autor da trilha do filme “Underground” de Emir Kusturica), Talking Heads e Michael Jackson. Sim, isto é diversidade.
Aliás, foi na música malandra de Michael, “Billie Jean”, que a polícia passou. Fechou-se as cortinas e desligou-se o som por um tempo. Mas para logo voltar a música e o delírio. O fato se repetiu algumas vezes até o amanhecer. Neste momento, o túmulo do samba mostrou como a ideia de anarquia no Carnaval – possivelmente esquecida na folia organizadíssima dos blocos e escolas do Rio de Janeiro, Salvador e Recife – ainda é possível e vital. Era anarquia em estado bruto. E como dizem que São Paulo é como o mundo todo, o mundo todo pode ter este momento de liberdade plena.
O Bar do Netão com certeza fez história na noite da cidade. E foi – ainda é – uma resposta pra toda a caretice da viptimização, do exclusivo e da intolerância que ainda insiste em reinar na cidade e no país.