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A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo

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Blogay é editado pelo jornalista e roteirista Vitor Angelo

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Visibilidade trans: O fim do não lugar (parte 1)

Por Vitor Angelo

Durante muito tempo, a transexualidade foi colocada à margem da sociedade , como algo a ser escondido, ou pior, esquecido. Como era algo que não se encaixa no mundo binário masculino e feminino, pois quebra as barreiras do que define o que é ser homem e o que é ser mulher,  além de questionar estes conceitos, foi melhor tratar as(os) trangêneros como uma anomalia. E com isto, tirá-las(os) de qualquer debate sobre qual é o lugar deles (delas) ou o lugar que eles(elas) desejam ter na vida social foi uma solução que funcionou por um certo período. Marginalizá-los(as) foi a “melhor solução”.

Muitas vezes expulsas(os) de casa logo muito cedo, nas escolas sendo um dos alvos preferenciais do bullying, as(os) trans acabavam sem espaços que não numa certa marginalidade para onde eram guetizadas(os).

São poucos, mas cada vez mais crescente o número de trans com ensino superior, algum cargo de comando como síndico(a) ou vereador(a) e outras profissões que não a prostituição, outro estigma (longe de qualquer moralismo) que envolve a vida trans e que, dentro do senso comum da nossa sociedade, é sinal de marginalidade. Mas estes cidadãos e, acima de tudo, seres humanos começaram a ganhar cada vez mais voz fora dos guetos.

Com isto, o não lugar social que estava reservado para (os)as transgêneros não faz mais sentido e nem serve mais para que elas(eles) se sintam protegidas(os).  Eles(elas) querem viver em sociedade, mas em um mundo separado entre homem e mulher, qual o lugar daqueles que não se encaixam com perfeição nesta divisão? Sim, o mundo é formado por homens e mulheres (dirão os mais óbvios e os mais conservadores), mas com a transexualidade não será o momento de alargarmos este conceito?

Renata Bastos, vendedora e hostess, que hoje se considera travesti – antes ela se recusava a definir sua identidade de gênero -, frequentava o clube Pacaembu, em São Paulo, como menino. Apesar de muito feminina e a maioria das vezes andar como menina, aliás, até dormir de baby-doll, ela usava sunga e frequentava o vestiário masculino. “Fazia uma linha Fernando Gabeira”, brinca ela ao relatar o caso para o Blogay.

Faz um ano e pouco que ela começou a tomar hormônios, seus peitos cresceram e se sentiu mais confortável usar o vestiário feminino. Ela fez exame médico com sua identidade no sexo masculino, mas trajando biquíni. O mesmo aconteceu quando passou pela catraca do vestiário feminino, a moça viu sua identidade mas nada comentou.  Foi depois de um tempo que estava na psicina que começou um buchicho e um salva-vidas veio falar com ela pedindo para que se trocasse no vestiário masculino já que a identidade de carteira dela era masculina.

Ela narra que ele foi extremamente educado e disse que aquilo era uma situação nova pra ele. Esta ”situação nova” é o que mais me chamou a atenção (e não me venham os imbecis da naturalidade falar que isto não existe porque não é natural, estes mesmos que usam computador, geladeira, dirigem carros, objetos que estão longe do que é natural exatamente no sentido tacanho que usam a palavra). Realmente, o mundo antes estava separado por gêneros identificados por seus RGs e os(as) transgêneros estavam totalmente à margem disto.

Ela, Renata, gostaria de frequentar o clube, mas se sente constrangida agora.  Segundo ela, não pelo clube, mas porque se sente deslocada, está de volta a um não lugar social pois não se sente bem no masculino (acredita que pode ser alvo de agressão verbal ou física), e o salva-vidas falou que algumas mulheres ficaram incomodadas com a sua presença no vestiário feminino, apesar dela sempre – tanto no masculino como no feminino se trocar no reservado.

O que fazer? Muitas dúvidas e apenas uma certeza: este impasse, este não lugar é o único lugar que ela não pode voltar a frequentar.

PS: No post seguinte, Laerte Coutinho e outras transgêneros debatem a questão.

Renata Bastos (Reprodução/Facebook)

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