São Paulo, que completa 459 anos nesta sexta-feira,25, tem maltratado muito seus moradores. Uma cidade com uma polícia agressiva, toques de recolher, chacinas nunca explicadas, falta de espaços públicos (a morosidade em nome da especulação imobiliária para que uma área na rua Augusta com a Caio Prado vire um parque para toda a população da região central da cidade é um exemplo), episódios quase que diários de homofobia, uma arquitetura contemporânea pavorosa, uma elite mesquinha e uma classe pobre e média conservadora, faz com que se endosse tanto descaso pela vida humana na maior cidade do país. Quando o rapper Criolo exclama “não existe amor em SP” parece que o músico nos joga na cara o óbvio, o que está evidente e só faltava ser falado (ou cantado).
Durante décadas São Paulo foi odiada pelo resto do país. Frases como a de Vinicius de Moraes que “São Paulo é o túmulo do samba” ou a clássica de Nelson Rodrigues, “A pior solidão é a companhia de um paulista”, não surgem em vão. Existia uma recusa e uma incompreensão com aquilo que destoava da tal “brasilidade”. A cidade não se encaixava no ideal tropical que é tão evidente, por exemplo, no Rio de Janeiro e em Salvador, que por muito tempo foram a síntese e a ideia de Brasil.
Mas o que era diferente, o estranho, o fora do lugar (numa metáfora às minorias e aos gays) , começou desde os anos 1980 a ditar comportamentos para o Brasil. E este ódio pela cidade foi diminuindo um pouco pelos brasileiros que não moram na capital paulista. Mas se existe alguém que critica com veemência, esculhamba e bufa contra São Paulo são os próprios paulistanos e os moradores que aqui vivem (que são considerados também paulistanos) – esta simbiose não existe em nenhuma outra cidade do país como também esta baixíssima autoestima pela cidade por parte paulistanos (isto é, todos que vivem em SP). Como já escrevi uma vez: “São Paulo, te amo odiar, te odeio amar”.
A relação de amor e desamor com São Paulo e da cidade com seus habitantes é um traço vital, é seu yin e yang. Assim se opera a relação de seus moradores com esta metrópole. Outros habitantes de outras capitais poderiam dizer que também têm este “approach” com suas cidades, mas nunca será algo primordial e intenso como é para quem vive em SP.
Colocadas estas observações, volto ao primeiro parágrafo que diz que a cidade está nos maltratando. O equilíbrio entre amor e desamor que existe em São Paulo e nela com seus habitantes está em desequilíbrio. Não é à toa que cartazes pela cidade pedem “mais amor por favor” e muitas pessoas rebatem Criolo e a todo momento dizem: “Existe amor em SP”.
O amor é um assunto central na cidade hoje – o atual prefeito Fernando Haddad (PT) explicitou em seu discurso de posse no começo deste ano esta vontade de amor no debate sobre a cidade, (clique aqui nos 4:00) – e nos orgulhemos, é um luxo que um sentimento individual, próprio da individualidade seja tratado de forma coletiva sem autoritarismo e muita poesia. Precisamos reajustar esta balança, mas o sentimento de querermos mais amor já diz muito que este reajuste em breve acontecerá.
Sem pânico em SP, parabéns São Paulo!