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Piquenique Pelo Mesmo Amor pede mais tolerância à diversidade no país

Por Vitor Angelo

Quando se fala em piquenique, sempre fazemos uma alusão a um encontro festivo e amoroso entre o homem e a natureza. E é esta a base do 3º Piquenique Pelo Mesmo Amor que acontece neste sábado, 19, a partir das 14h, na Praça da Paz, no parque do Ibirapuera, em São Paulo

Piquenique do Mesmo Amor (Divulgação)

Para além do encontro com a natureza, o símbolo piquenique sempre evoca para mim duas obras, uma da pintura e outra do cinema que mostram que a energia de um piquenique não é tão ingênua – assim como a natureza – quanto parece.

“Le Dejeuner sur L’Herbe” (1863) Edouard Manet

Uma das obras-primas de Edouard Manet, o “Le Déjeuner sur L’Herbe”, também conhecido como “Piquenique na Relva”, é um poderoso escândalo ao moralismo da burguesia parisiense do século 19.

O choque vem em dois sentidos. Um é implicitamente inconsciente, a ousadia de um quadro que parece não finalizado é um ato de liberdade individual (do artista) como diriam os defensores do quadro na época. O outro é explicitamente consciente, a ousadia do olhar da mulher nua que nos encara, quase nos chamando para um embate em nós mesmos sobre a não naturalidade do uso de roupas.

Estamos agora no reino da natureza e o sexo, que é algo tão pouco saudável mesmo na nossa “liberada” sociedade contemporânea, aparece contundente no clássico hollywoodiano “Picnic” (1955) com William Holden e Kim Novak.

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Já não estamos no terreno da burguesia, mas dos operários da metade do século 20, e eles comemoram o Dia do Trabalho no campo, com um piquenique. A dança entre Hal (William Holden) e Madge (Kim Novak) é uma verdadeira bomba sexual. No contato com a natureza, Madge esquece os contratos sociais como o que namora um ricaço e pela regra deve casar com ele. Ela foge com Hal. O piquenique transformou estas mentalidades.

Apesar das aparentes digressões que fiz, o que quero colocar é que muitos dizem com muita propriedade que algo não é natural, como por exemplo, o amor entre pessoas do mesmo sexo, mas estão longe de entender a força da natureza e o que é realmente naturalidade. Talvez um piquenique ajude.

O Blogay entrevistou os organizadores do 3º Piquenique Pelo Mesmo Amor, Luana Torres, 31, bancária e Luís Arruda, 35, advogado, que falam como surgiu a ideia, o quanto ele tem de político no sentido amplo do termo e como o evento está muito sintonizado com a vontade de “mais  amor” na cidade de São Paulo.

Blogay – Como surgiu o Piquenique pelo Mesmo Amor?

Luana Torres – O evento surgiu na Argentina, em 2010, mas já tinha intenção de rodar o mundo. A ideia é a velha máxima do mais amor, por favor. Que aliás, é o mote deste ano no Brasil.

Luís Arruda – Só completando a ideia de trazer o piquenique pro Brasil foi do Tomás Florix, um grande amigo nosso argentino que mora por aqui e que foi o grande responsável pelos dois primeiros eventos.

Quais são os objetivos deste encontro?

Luana – Esse encontro busca reunir todas as cores da diversidade, as raças e crenças que entendem que o amor não enxerga nada disso que a intolerância vê. E que tudo isso que a intolerância vê machuca, provoca danos irreversíveis, não apenas na vítima, mas na sociedade.

Luís – Acho que o grande objetivo desse encontro é celebrar o amor e a vida em sociedade. Lembrar que a sociedade é plural e que se vivermos com mais amor no coração ela sempre será harmônica e feliz.

Como foram as outras edições?

Luana – As outras edições foram lindas, tivemos duas em 2011. A de 2012 teve de ser adiada para este sábado, por conta da chuva. Então esse ano teremos trabalho dobrado! Mas é um trabalho gostoso.

Luís – A primeira em fevereiro (de 2011) foi  pelo Valentine’s Day (dia dos namorados no Hemisfério Norte) e a outra foi em junho por causa do nosso dia dos namorados. Ambas foram muito cheias e vibrantes, mas ficou claro que a disposição para piqueniques aumenta no verão, por isso vamos fazer de novo no verão esse ano.

Casais héteros são benvindos?

Luana – Todos os casais, solteiros, assexuados e afins são benvindos no piquenique. A ideia é mostrar que você é único, e que não depende de gueto. Mas depende de todo um coletivo, e é esse espírito que buscamos. Unir a todos sem distinção, que lá estejam famílias héteros, gays, solteirxs, etc.

Luís – Muito bem vindos! O piquenique é justamente isso, é a união de todas as formas de amor, seja ela romântica, amistosa ou familiar, ou mesmo o famoso e tão esquecido nos dias de hoje amor ao próximo. Todxs que tiverem o espírito de confraternizar e de entender o diferente como uma riqueza social devem vir.

Já aconteceu algum caso curioso durante o piquenique? Como é a dinâmica do piquenique?

Luana – Já tivemos casos incríveis no piquenique. Desde as coisas mais engraçadinhas, como champagne no gelo em pleno parque do Ibirapuera, até novos casais, novas formas de relacionamento, famílias que buscaram se aconchegar conosco, observando de forma diferente o relacionamento de seus filhos e filhas com seus amigos e parceiros afetivos.

Luís – Já se formaram casais no piquenique, mas tudo é muito mais num clima amoroso mesmo, não só o amor casal, muitas amizades também foram feitas lá. No de junho de 2012, uma hora se formou uma grande roda e as pessoas se abraçaram, claro que quem não quis entrar na roda não foi obrigado, mas foi bonito de ver.

A dinâmica é simples, você leva o que for comer e beber e um extra, o espírito é coletivo e solidário, é para dividir, para confraternizar mesmo, mas tudo muito natural e sem rigidez. Se você não se sente confortável em dividir, leve seu lanche e divida sua conversa, já é o bastante!

O quanto político é este piquenique?

Luana – O piquenique não é político. É um evento de amor. Talvez por isso seja mais efetivo do que qualquer passeata, manifestação, beijaço, etc. Não estamos pedindo nada. Só queremos mostrar a todos que o amor é igual, é o mesmo amor.

Luís – Concordo com a Luana que o piquenique não é político no sentido restrito dessa palavra, mas talvez usamos ela de maneira muito errada, pois tudo que fazemos na nossa vida pública, na cidade (polis) é político.

Então desde a decisão de jogar ou não um papel na rua, passando por mostrar seu afeto em público, passando por reclamar com o gerente do supermercado quando um produto está sem preço é política e é político. Talvez quando entendermos isso nos interessaremos mais pela tal política no sentido que a usamos, para partidos e eleições, pois ai entenderemos que a cidadania é uma atividade diária e não apenas em época eleitoral. Nesse sentido, como exercício da sua liberdade de cidadão e de ser humano afetuoso o piquenique é um ato político sim.

3º Piquenique do Mesmo Amor (Divulgação)

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