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A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo

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O comediante, a cartunista e os assassinatos

Por Vitor Angelo

O ano não começou nada bem para os gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. Houve um aumento de quase 27% de crimes de ódio contra os LGBTs no ano de 2012 em comparação com o ano anterior.  Foram 338 assassinatos segundo relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB) que se baseia em informações retiradas de notícias da imprensa.

A notícia causou celeuma entre os intolerantes de toda ordem. Como só 338, heterossexuais morrem muito mais, ruminaram pelas redes sociais. Para além da burrice de que não importa se morrem um ou mil, o assassinato é um ato abjeto seja com quem for, tem um grande detalhe: não se morre por ser ou aparentar ser hétero.

Laerte sempre brilhante desenhou a situação com precisão

Tira de Laerte Coutinho

Mas contra a intolerância não há racionalidade ou argumentos que consigam derrubar a sua (i)lógica.

E o ódio continuou a argumentar de má fé, até que o comediante Danilo Gentili resolveu se colocar como arauto do suposto politicamente incorreto e em seu Twitter escreveu 140 caracteres de algo que ele gostaria de acreditar ser engraçado.

(Reprodução/Twitter)

O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) acabou “batendo boca” com ele e no final divulgou um texto sobre todo o episódio que vale leitura.

Gentili é de uma turma recente de comediantes que se pretende libertária ao afrontar o politicamente correto. A ideologia, que surge com a esquerda norte-americana e os chamados “New Studies”, colocou em um primeiro momento, através de novos termos como, por exemplo, afrodescendente, tirar certas conotações preconceituosas contra as minorias, isto é, fazer correções pelas opressões que grupos minoritários sofreram.

Numa certa inversão de valores feita pela má fé dos intolerantes e também por um excesso de zelo (e autoritarismo?) dos grupos que colocaram os termos politicamente corretos na mídia e na língua do mundo, eles logo ganharam uma certa antipatia pública. Ficou legalzinho ser politicamente incorreto. Estava ali, naquelas palavras que pretendiam não ofender outras pessoas, uma afronta à “liberdade de expressão”, seja lá o que isto quer dizer.

Criou-se então uma falsa dicotomia, de um lado a liberdade de expressão e de outro o politicamente correto. Mas o que é curioso é que esta tal “liberdade de expressão” é apenas e simplesmente o direito de detonar as minorias. Os poderosos, as grandes corporações (muitas vezes patrocinadores destes comediantes), o status quo vigente nunca é questionado, e se raramente o é, é bem superficialmente como perfumaria. Isto é, a anarquia e a liberdade não passam de algo fake, marketing.

Um exemplo claro disto é Rafinha Bastos, da mesma trupe de Gentili. Tudo ia bem ao reverenciar estupro de mulher feia, mas no momento que o desavisado mexeu com a cantora Wanessa, casada e ligada a pessoas poderosas, recebeu o recado explícito até onde ia sua tal “liberdade”, sendo demitido de um programa e hoje meio fadado ao ostracismo. Gentili sabe bem – até através do exemplo de Bastos – da fina linha estreita da tal liberdade e da suposta posição libertária que tenta vender aos seus súditos.

No fundo, seu humor libertário é o mais aprisionado de todos e ligado ao pior do conservadorismo do país.

***

Enquanto Gentili ri dos mortos, eu choro pelos vivos:

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