Nesta semana foi debatido no Congresso Nacional um projeto de decreto legislativo 234/11, do deputado João Campos (PSDB-GO), dentro da Comissão de Seguridade Social e Família. O que pretende este PDL? Alterar a Resolução 1/99 do Conselho Federal de Psicologia e retirar dois parágrafos que são:
Art. 3º – Parágrafo único – Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.
Art. 4° – Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.
Se a OMS (Organização Mundial da Saúde) já despatologizou a homossexualidade desde 1990, o que se pretende este PDL? Mais do que propor uma cura aos gays, a ideia é voltar a ter um discurso de preconceito que, mesmo com o aval científico contrário a esta ideia, ainda insiste em ver os homossexuais como perversos, doentes e com desvios de todas as ordens. Aliás, é criar um aval científico contra os LGBTs.
Um olhar mais atento logo percebemos que o projeto – utilizando a falácia de liberdade individual de “psicológos” que se veem impedidos de curar gays por causa desta resolução – tem o mais puro caráter autoritário como é de se esperar por quem está por trás disto. Quem coloca este projeto como algo urgente e importante a ser discutido é a bancada fundamentalista, sempre contrária aos direitos dos homossexuais. Campos é pastor e chefe desta falange no Congresso, que na audiência desta semana ainda teve uma forte presença de muitos pastores como Silas Malafaia e Marcos Feliciano, este também deputado federal (PSC-SP).
O grau de pedantismo destes senhores é tão grande e suas argumentações são contraditórias. Eles querem interferir em uma decisão de um conselho que tem autonomia e que foi uma resolução tomada não por um grupo, mas um colegiado de órgãos ligados ao exercício da psicologia. Com certeza, eles detestariam que existisse um PDC que, por exemplo, proibisse o dízimo que tanto sustenta suas igrejas. Ou ainda, que não pudessem mais falar em suas igrejas o nome de Deus, pois fere o direito ou a liberdade individual daqueles que não acreditam em Deus – dentro do pensamento estafúrdio utilizado por estes fundamentalistas. Esta intromissão de uma área a outra mostra como esta bancada é perigosa e não respeita limites entre ciência e religião.
Pois sabemos que em muitas destas igrejas são oferecidos processos de cura de homossexuais e promovem estas terapias de conversão sem a menor culpa, mesmo que cientificamente elas já terem sido provadas como ineficazes. A psicologia e os cientistas nunca foram nestas igrejas criar caso, até porque se tem pessoas que acreditam que esta cura possa acontecer por milagre e força de Deus, que o faça, está aí a liberdade individual.
Mas o obscurantismo destes senhores não percebe o quanto esta ação deles no fundo mostra a sua própria falta de fé. Não basta a fé, que eles “acreditam” ser capaz de curar os gays – já que em suas igrejas fazem estes processos de reversão com os que não são héteros -, é preciso da ciência, eles precisam da ciência. Eles querem o aval da ciência contra os gays pois a fé deles é pequena, falha, tacanha. Não é suficiente para o ódio contra os homossexuais que eles trazem dentro deles. Nem Freud, Jung, Klein, Lacan, Reich explicam, ou talvez expliquem até demais…
Jean Wyllys se colocou neste bisonho debate de forma muito explícita:
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Veja também clicando aqui a sessão inteira e principalmente a fala do presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Humberto Cota Verona.
Por fim, com tanta hostilização, nada melhor que o humor: