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A contribuição dos gays, lésbicas e travestis para o mundo

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Hebe Camargo e os gays

Por Vitor Angelo
Primeira gravação do programa da apresentadora Hebe Camargo, após a retirada de um tumor no intestino (Julia Chequer – 23.abr.12/Folhapress)

Tinha um amigo da faculdade que nunca saia às segundas-feiras à noite, pois era dia do programa da Hebe. Ele era homossexual.  Tinha uma conhecida que fazia questão de ter perucas loiras e cheias de laquê por causa da apresentadora. Ela era travesti.

De uma certa forma, Hebe Camargo, morta neste sábado, 29, encontrava eco no meio gay. Eu mesmo que, nos anos 1980, a achava perua quando isto era algo ofensivo para uma certa intelligentsia e muito reacionária – apoiou durante um tempo Paulo Maluf e Celso Pitta assumidamente para depois também de peito aberto fazer um mea culpa e se arrepender destas ligações -, tinha um carinho especial e, por que não,  um fetiche pelo sofá. Tá certo, vou confessar, todo o malufismo dela ficava para trás, quando ela entornava um copo de cerveja gelada, ao vivo.

Tinha uma colega de trabalho que dizia sentir tesão por mulheres mais velhas como a Hebe. Ela era lésbica. Tinha um amigo que no Carnaval saía vestido como a apresentadora, falando “que gracinha” para todos os homens que via pela frente. Ele era drag.

Com o passar do tempo, a lenda viva foi ficando mais lenda e mais viva na televisão brasileira. Sua parceria com Nair Bello, sua grande amiga, era digno do melhor da comédia produzida na TV. Sem falar que foi Hebe quem levou a drag Nany People para frente das câmeras. Não como algo meramente humorístico ou enfeite cômico como até então era o papel das drags na televisão aberta e sim como sujeito atuante. Nany entrevistava, opinava e também dava muita pinta, tudo para uma classe média bem conservadora do fim dos anos 1990 e começo dos 2000. “Hebe é uma santa. Sentei em seu sofá plebeia e saí de lá princesa”,  disse a drag em uma entrevista na época para a revista “Veja”.

Tinha eu que me despi dos preconceitos partidários dos anos 1980, do meu esnobismo intelectual de faculdades de humanas e, que por volta de 2007, fui escrever textos para ela e descobrir depois de décadas na TV que ainda tinha muito que aprender sobre o ofício assistindo nos bastidores Hebe atuar.

Hoje a TV está de luto, a deliciosa gargalhada se silenciou, mas tenho certeza – pois lembro dela rindo solto quando soube que Zé Simão disse na época que as múmias achadas em um convento em São Paulo eram a Nair Bello e ela – que ela iria chorar de gargalhar se assistisse este vídeo das ultramonas Las Bibas From Vizcaya:

[youtube x7qfUpNc5kA nolink]

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