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O que aconteceu no encontro de Celso Russomanno com o empresariado LGBT de SP

Por Vitor Angelo
Manifestantes distribuem panfleto na porta da The Society, em São Paulo (Reprodução/Facebook)

Uma manifestação ocorreu no sábado à noite, 22, organizada pelos Setoriais LGBT do PT, PSDB, PSOL, a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo e militantes independentes, na porta da The Society. Por volta de 60 pessoas, segundo os organizadores, distribuíram folhetos na entrada do clube pedindo explicações para André Almada, dono do boate, sobre a reunião na casa noturna entre o candidato à prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno (PRB), líder nas pesquisas eleitorais e ligado a alguns líderes políticos e religiosos conhecidamente homofóbicos, e alguns setores do empresariado LGBT.

Na carta aberta que eles entragavam aos frequentadores da casa, os militantes levantaram alguns pontos que os leitores deste blog também me cobraram. O que foi discutido? Quais as propostas feitas pelo candidato do PRB?

O Blogay também interessado na discussão enviou algumas perguntas simples para o empresário que respondeu via assessoria:

“Sobre questões referentes ao bate-papo com o candidato Celso Russomanno, no clube de The Society, viemos a público elucidar os principais pontos, observados em fóruns de redes sociais.

Novamente reiteramos que a iniciativa partiu do PTB, do deputado Campos Machado, partido do qual o empresário André Almada é filiado desde 3 de outubro de 2009, quando recebeu convite para presidir o Departamento da Diversidade, sem no entanto ter ocupado o cargo nem ter sido atuante político. Acima de tudo, sua função social como empresário de entretenimento é dar todo o apoio necessário, independentemente de candidato ou partido, para políticas públicas que vão ao encontro do interesse da sociedade como um todo.

Abrimos espaço para que o candidato se apresentasse à classe LGBT. Além disto, sua visita a um clube gay, com a presença de personalidades e empresários do meio, inclusive o próprio Almada, mostra o comprometimento do candidato com o público, caso seja eleito.

Muito se tem questionado o porquê de não divulgarmos as propostas apresentadas. Em nenhum momento esse foi o objetivo do evento, que serviu para uma aproximação com o público gay. O próprio convite, feito pelo André Almada, deixou claro que se tratava de um bate-papo informal, sem cunho político ou necessidade de ampla divulgação pela mídia.

Quanto à sugestão de promovermos um debate com a presença de todos os candidatos, consideramos muito válida a ideia. Acreditamos que esse papel cabe à militância, não a um grupo empresarial, como o nosso. No entanto, colocamo-nos à disposição como apoiadores, cedendo espaço para a realização do evento relacionado”.

Apesar de esclarecedor em diversos aspectos, o comunicado oficial da assessoria não responde às perguntas – simples – que fiz ao empresário (como foi a conversa com o Russomano? Quais foram as propostas dele para o segmento LGBT?; como foi a reação dos convidados?; quem participou desse encontro?). Neste momento, ao qual Almada está sendo atacado por tantos segmentos ligados à militância de promover um debate às escondidas, tudo deveria ter mais transparência. O trecho que “era um bate-papo informal, sem cunho político” foi mostrado para alguns jornalistas ligados à cobertura de política que disseram que isto não existe, ainda mais de um candidato que está em plena campanha eleitoral.

O encontro

Convite do evento ( Reprodução)

O Blogay apurou e descobriu alguns fatos que aconteceram neste encontro que ocorreu na sexta-feira, 14, mas só veio a publico quase uma semana depois. Como são comuns nesta época eleitoral, alguns candidatos convidam empresários para conversar, mostrar ideias e foi um pouco nesta base que aconteceu o encontro. Mas diferente do habitual, havia uma forte presença de militantes do PTB – partido da base de apoio de Russomanno. Tinha-se a impressão da presença de uma certa imprensa pois tinham fotógrafos, pessoas com vídeo, mas realmente conhecida do público LGBT só estava o Mix Brasil. Pesquisa feita mostra que não se noticiou nada sobre o encontro em nenhum jornal relevante ou mesmo no site ligado aos homossexuais que estava presente. Todos os jornalistas amigos deste blog disseram que um evento desta envergadura – do provável prefeito da cidade de São Paulo ligado aos líderes da Igreja Universal (forte opositora dos direitos homossexuais) com o empresariado gay seria notícia de destaque em qualquer jornal, mesmo que a discussão fosse feita na base da informalidade.

Os discursos que antecederam o de Celso Russomanno foram todos feitos com muita cautela e elogiosos tanto sobre a casa noturna como do debate que estava acontecendo. O empresário Alberto Hiar, o Turco Loco, dono da grife Cavalera, estava sentado na plateia e foi convidado para subir à mesa de debate. Ele pode ter subido por ser talvez o mais famoso presente no encontro ou por muitos comentarem que ele faz parte da campanha de Russomanno e foi às reuniões de Campos Machado (PTB), realizados todas as segundas-feiras, para traçar diretrizes da candidatura a prefeito de Celso. Hiar foi contactado pelo blog, mas ainda não respondeu.

Por fim, Celso Russomanno chegou mais de 40 minutos atrasado e com um outro compromisso na agenda. Pediu desculpas pelo atraso, e foi realmente o único a falar sobre os LGBTs de forma mais direta. Disse que é contra a discriminação, que não é homofóbico, e teve uma funcionária que era transexual, e – o mais importante de sua fala – que ele ira escutar os gays, pois ele governará uma cidade para todos. Foram abertas para as perguntas, mas deu tempo apenas para duas , uma delas feita por uma moça que disse ser de um blog desconhecido falava sobre os cadeirantes, algo fora de foco para um debate específico. O candidato se despediu rapidamente pois já tinha outro encontro na sua agenda política.

Conclusão

Não foi discutido nada mais profundo, por isto a dificuldade deste blog de entender o mistério em volta deste encontro – importante sim – não podemos subjugar o potencial político nele contido em todas as suas nuances.

Dois pontos a ressaltar: os gays conhecem o discurso do “não sou homofóbico, tenho um primo, um cabeleireiro, uma funcionária que é  gay” para camuflar a homofobia… Mas, no caso, esta funcionária citada por Russomanno no encontro existe. Chama-se Maria Eduarda Borges, é transexual, e trabalhou para o deputado durante oito anos na Câmara Federal. Ela escreveu para o blog dizendo que nunca sentiu preconceito por parte do deputado.

Pois bem, o Russomanno pode até não ser homofóbico, mas em política, aprendemos rapidinho que este valor conta pouco. As forças que o apoiam e o financiam são – boa parte vinda dos líderes da Universal. Para não ir muito longe, temos o caso de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais, que no primeiro turno disse acreditar que o aborto é um caso de saúde pública. Era explícito que ela tinha um posição mais flexível em relação ao assunto. No segundo turno, as alianças que fez, inclusive com o atual ministro da Pesca, Marcelo Crivella – também ligado à Universal – fez com que recuasse sua posição para o lado inverso. Então, Celso pode até não ser homofóbico, mas se quem deu o dinheiro de sua campanha pressionar como fizeram com Dilma, ele nada poderá fazer a favor dos LGBTs.

Exatamente por isto, por mais burocrático que possa parecer o “vou governar para cidade e quero dialogar com os gays” ganha aqui uma outra conotação, muito mais importante e política. Se estas linhas tivessem sido publicadas ou assumidas por aqueles que estiveram no evento e tanto disseram que não aconteceu nada demais, poderíamos, mesmo que frágil, ter um argumento em uma hora de uma possível repressão por parte de uma provável gestão Russomanno: “Prefeito, você encontrou conosco, por que quer tirar a parada da Paulista? Ou por que quer fechar o Cads? Ou qualquer ato que poderá prejudicar gays, bissexuais e transgêneros.” Isto é algo de cunho político em essência.

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