Na manhã desta quinta-feira, 20, uma imagem caiu como uma bomba para a comunidade LGBT. Um dos empresários mais poderosos da noite gay de São Paulo, André Almada, apareceu em uma foto abraçado com o candidato do PRB à prefeitura da cidade, Celso Russomanno.
As fortes ligações do político com as lideranças da Universal, igreja que faz forte oposição aos direitos dos homossexuais, bissexuais e transgêneros transforma o apresentador de TV e deputado federal em antagonista dos gays.
Esta sensação do gesto entre figuras emblemáticas que a princípio estão em campos opostos se abraçando logo causou celeuma. E multiplicaram-se no mar de palavras e sensações que são as redes sociais manifestações de repúdio e de apoio a esta imagem. Para uns, foi um ato democrático, para outros, foi um sinal do jogo de interesses políticos sem nenhuma ideologia ou preocupação com os direitos dos LGBTs.
Uma manifestação de repúdio está sendo marcada no sábado, 22, em frente a um dos clubes de Almada. “Gritemos, demonstremos nossa indignação e repulsa a este ato e inspirados em Harvey Milk vamos à frente da boate ‘The Society’ de André Almada demonstrar nossa ojeriza em relação ao seu apoio ao candidato não desejado pela comunidade LGBT”, diz o manifesto no Facebook.
A assessoria do empresário soltou uma nota esclarecendo o caso: “Sobre a foto que tem circulado pela internet, na qual o empresário André Almada aparece ao lado do candidato a prefeito de São Paulo, Celso Russomanno, explicamos que se trata de um evento realizado na semana passada no clube ‘The Society’. Russomanno, apontado por muitos como opositor da comunidade e dos direitos LGBT, foi justamente esclarecer essa questão e apresentar seus planos e projetos pertinentes a esse público. O que fizemos foi dar direito de resposta e promover um debate saudável. O Grupo The Week, além de promover entretenimento, exerce sua responsabilidade social. Nossas portas estão abertas a todos os demais candidatos.”
Muito se questionou se o empresário estava apoiando Russomanno, o porquê da foto, qual a qualidade daquele encontro. O Blogay mandou via e-mail perguntas para André Almada que explica seu ponto de vista no caso.
Blogay – Como aconteceu este encontro entre você e Russomanno?
André Almada – O partido do deputado Campos Machado (o PTB) solicitou um encontro com o candidato. Então convidei algumas pessoas do meio LGBT para um bate-papo no clube “The Society”. A iniciativa não foi nossa. Foi solicitação do partido. Nós aceitamos, pois achamos que esse debate seria uma forma de exercermos de fato a democracia, e também uma oportunidade de ouvir do próprio candidato a posição dele quanto às propostas direcionadas aos homossexuais. Qualquer outro candidato que nos procurar, faremos o mesmo.
Como surgiu a foto, por que decidiu tirar uma foto ao lado dele?
Como anfitrião da noite, uma foto com o candidato é de praxe. Afinal, constituímos a mesa de debate.
Como você está reagindo aos comentários e atos contrários a esta foto?
Me surpreendi e ao mesmo tempo fiquei feliz, pois não imaginava que promovendo este encontro eu fosse descobrir que tantas pessoas estão politicamente engajadas e preparadas para cobrar do(a) nosso(a) futuro(a) prefeito(a), independentemente de quem seja eleito, ações que envolvam a classe LGBT. As pessoas estão preocupadas com as propostas dos candidatos, e isso é muito bom. Embora estejamos sofrendo críticas, o nosso objetivo de promover a reflexão está sendo cumprido.
Você sabia das ligações de Russomano com as lideranças da Universal, inimiga histórica dos LGBTs no país? Isto não te deixou ressabiado de realizar este encontro?
Sim, tenho conhecimento pelo que se tem divulgado na mídia e redes sociais. Justamente por isso achei oportuno esclarecer essa e outras questões na presença dele. Afinal, ele foi a um clube gay conversar com gays sobre os direitos dos gays.
Afinal, você apoia ou não Celso Russomano? A suas boates “The Week” e “The Society” tem alguma agenda política?
Até o momento não apoio nenhum dos candidatos à Prefeitura de São Paulo. Não temos agenda política, mas reforço que estamos abertos a todos os candidatos.
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Como no fatídico recente clique do aperto de mão entre Lula e Maluf, em que a imagem fala mais alto que qualquer palavra, é inevitável perceber uma certa incoerência (e também inocência?) neste abraço. Celso Russomanno é o candidato que parece esconder o que pensa, porque reitera a todo tempo que só quer discutir a cidade – como se o fato do que ele acredita não tivesse menor valor. Ele é o que se diz católico e que seu partido é de base da mesma religião, quando reportagem da Folha mostra sua profunda relação com a Igreja Universal e seus líderes, muitos deles políticos que lutam intensamente contra leis de direitos aos homossexuais. Isto é, existe algo de dissimulado entre o que ele diz e o que realmente é.
Parece louvável que ele vá ao encontro dos homossexuais, mas dentro desta perspectiva de dissimulação parece ser mais um jogo dele. Sim, como Almada disse, ele foi fazer suas propostas sobre a cena gay – algo que parece estar longe de sua agenda verdadeira . Em troca, um abraço. E a imagem do homem que declarou ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo transforma-se com esta foto (que diz mais que mil palavras) em uma prova contrária da homofobia que realmente sustenta sua campanha.
Quem o acusará de homofóbico agora? Ele foi aos gays, abraçou um deles. Ele tem agora mais um álibi em seu arsenal de dissimulações, e a gente, nem um abraço de verdade.