Em uma semana que se comemora o aniversário de 70 anos de um dos maiores músicos do país, é também momento de prestar tributo para aquele que foi além de sua própria música, e interferiu, assim como grandes astros da cultura popular como Elvis Presley, Beatles ou Nirvana, nas mudanças de comportamento de uma geração, de um pensamento. Neste quesito, gays e mulheres devem ser muito gratos a Caetano Veloso:
Ao homem que passou batom vermelho e usou roupas étnicas e de plástico como um executivo hoje passaria seu gel no cabelo. Ao baiano que fez questão de beijar na boca, durante seus shows, todos os integrantes de sua banda como um namorado beija sua amada. Ao músico que compôs “Ele me Deu um Beijo na Boca”, de caráter possivelmente homoérotico, e que colocou no disco que gravou esta música a foto dele beijando a boca seu pai no dia de seu aniversário, de caráter confirmadamente afetivo. Reafirmando que para além da sexualidade está a afetividade, Caetano nos ensina:
Que os homens podem ser afetuosos com outros homens, sem que isto necessariamente seja um atestado assertivo sobre a sua sexualidade. Que as roupas não definem orientação sexual, apenas indicam a sua liberdade (ou não) em relação ao mundo. Que as mulheres não devem temer o homem feminino como uma clara e óbvia figura homossexual (as aparências enganam, mas isto é de outro músico) que não pode ser desejada. Neste sentido, Caetano está liberando os homens de certas obrigações boçais para poderem receber a carteirinha de heterossexual e dando um golpe duro no machismo e na misoginia:
Suas elegias às mulheres estão para além da sedução entre macho e fêmea. Ele é a filha da Chiquita Bacana que entrou “pra Women’s Liberation Front”. Ou o homem que tem “inveja da longevidade e dos orgasmos múltiplos” do sexo feminino. Ou ainda o apaixonado que liberta-se “ficando teu escravo” (da mulher). E para longe dos estereótipos que algemam as mulheres em suas obrigações de sedução, ele diz que quer “esta mulher assim mesmo”: baratinada, alucinada, despenteada, embriagada, intoxicada, desafinada e desentoada. Caetano realizou em sua obra e vida uma contribuição milionária para os gays, mulheres e homens héteros deste país:
Mas diferente do que diz o modernista Oswald de Andrade, não foram de erros, mas dos mais poéticos acertos.