Sempre escuto aqui ou ali alguém dizendo que a Parada do Orgulho Gay de São Paulo perdeu o sentido de ser, ou que – de forma depreciativa – virou um grande Carnaval fora de época. Ou ainda – com tons moralistas de carola – que é apenas uma forma de exibicionismo dos gays, lésbicas e travestis. Tem outros que apontam as brigas e imbróglios dos organizadores da Parada, ou ainda que o caráter político é esquecido em nome da farra.
A existência em si de uma Parada Gay em um país campeão de assassinatos de homossexuais e transgêneros já é um ato político. A visibilidade, isto é, a afirmação da existência de um segmento LGBT na principal avenida do país tem sua dose importante de política. Não tem como tentar, por mais que homofóbicos e conservadores tentem, empurrar toda esta gente pro armário do obscurantismo.
Ao mesmo tempo ser uma festa, em que as poucas roupas, mais do que pouca sem vergonhice, é sim um ato a serviço de uma política de liberdade do corpo, por mais que muitas destas pessoas (as que condenam e as desnudas) não tenham consciência disso, também tem um peso político grande.
A presença de uma classe menos abastada (os “feios “ que os moderninhos adoram apontar como o principal elemento para sua desistência de participar da Parada nestes últimos anos) tem seu lado político. A parada é um presente dos gays para a cidade, principalmente para esta população que é alijada de diversão e lazer, que é expulsa cada vez mais para as periferias.
Sem falar nas propostas políticas feitas tantos por organizadores da Parada, como pelo cidadão comum que levanta seu cartaz de cartolina com alguma reinvindicação. Mas ainda é algo tímido quando se tem a notícia que apenas três pré–candidatos estarão na Parada. É algo preocupante. Soninha (PPS), Carlos Giannazi, (PSOL) e Celso Russomano (PRB) foram os únicos que confirmaram presença. Os outros preferiram temer o eleitor conservador.
Se ainda mais política fosse a Parada, estariam todos disputando estar no carro oficial do evento. Pois eles também temeriam o eleitores LGBT ou o eleitor progressista que quer uma cidade mais diversa e tolerante.
O culpado sempre são os outros: a organização da Parada, os pobres-feios, o carnaval… Será que não é hora de utilizar sua cidadania para politizar a Parada? Chega de braços cruzados, máquinas paradas no pior sentido.
Um evento deste porte, nós gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais temos que comemorar sim, festejar, mas também aproveitar para impor respeito, não aos conservadores nem de forma conservadora, mas aos políticos – exatamente aqueles que irão decidir no futuro se a vida de um gay vale menos que a de um cachorro como ocorre hoje.