A homofobia vem de berço, infelizmente. Somos todos contaminados um pouco mais ou um pouco menos por esta ação secular e cultural. “Homem não chora”, “homem não veste rosa” ou “homem não brinca de boneca” são informações impregnadas de homofobia que adquirimos e passamos adiante sem saber, nem questionar o seu valor autoritário [depois tem fundamentalista que vem chamar a PLC122 que criminaliza a homofobia de “lei da mordaça”].
Entretanto, a luta contra a homofobia que tem, no seu papel cívil, a importância de criminaliza-la – pois em sua radicalidade leva a atos extremos de violência e morte -, parece ser algo decorativo dos partidos políticos e dos senhores sentados em cadeiras do Legislativo e Executivo.
Neste sábado, 9, o Uol publicou uma notícia que a gestão do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, não aplicou metade do orçamento de combate à homofobia. Este é um exemplo entre inúmeros de como a luta contra a homofobia serve muito bem para o discurso e pouco na prática.
Nesta época de eleições, não temos um partido político, seja de direita ou de esquerda, que toque na questão da criminalização da homofobia ou no esclarecimento da PLC122. Assim como aconteceu com o Escola Sem Homofobia, o projeto de lei que irá de encontro ao alto índice de assassinatos de LGBTs no Brasil não recebe de nenhum partido político ou mesmo políticos, ou até movimentos LGBTs ligados aos partidos políticos, um discurso e práxis sistemáticas que tentem desmontar a ideia de “lei da mordaça”, apregoada aos quatro ventos pelos conservadores. Repito: sistemático (não apenas um manifesto ali, depois de um tempo acolá), da mesma forma que os fundamentalistas injetaram na sociedade a ideia equivocada de “kit gay” ou “lei da mordaça”.
Falta coragem de lidar com a verdade? A PLC122 defende idosos , deficientes físicos também, porque isto nunca é (novamente) sistematicamente colocado nos discursos de resposta aos ataques que seria o projeto uma lei totalitária? A PLC122 sim é uma lei que protege os gays (no sentido genérico da palavra) e não podemos esconder isto, temos que nos orgulhar por esta luta. Mas protege também heterossexuais que não compactuam com certos modelos, estes sim, autoritários, que fazem com que um pai tenha sua orelha arrancada porque abraçou seu filho e foi confundido com casal de namorados, no interior de São Paulo, ou a aeromoça que, confundida com travesti, apanhou de um bando de pitboys, em Alagoas.
Dito isto, questões como o boicote à marca Avon por patrocinar um pastor homofóbico ou a luta pelo casamento igualitário não são de forma alguma algo menor e nem devem ser desprezados. Sim, eles devem existir com toda a sua importância ao lado do combate da criminalização da homofobia. Mas o que se percebe, a impressão que se tem, é que a criminalização da homofobia virou algo menor que estas questões.
Toda a luta dos movimentos gays está sobre o guarda-chuva da homofobia. Criminalizá-la é resolver mais da metade delas e abrir brechas legais em outras como possíveis condenações a juízes que se negam a registrar o casamento de casais do mesmo sexo. Então porque este medo, porque deixar esta bandeira que é primordial em segundo plano? Vamos sair do armário e tirar do armário a luta pela criminalização da homofobia, não como discurso, mas como atitude e ação primeira seja nos partidos políticos, nos movimentos LGBTs e em nós mesmos.